Nos últimos tempos criou-se a ideia de que o consumo de carne, sobretudo da vermelha, prejudica a saúde. Mas será que é este mesmo o grande culpado pelas principais doenças, inclusive as oncológicas?
Antes da década de cinquenta as doenças cardiovasculares eram praticamente desconhecidas. Quase não se falava de diabetes, de doenças auto-imunes, de obesidade como uma epidemia e os casos de morte do foro oncológico contavam-se pelos dedos.
Foi por volta dessa altura que foram introduzidos os óleos vegetais parcialmente hidrogenados (recomendados em vez da manteiga ou banha) e foi promovido o aumento de cereais de todo o tipo.
Hipótese errada: gorduras de origem animal não causam colesterol
Uma vez que a gordura de origem animal foi demonizada (com base na hipótese errada e nunca comprovada de que causava colesterol – sabe-se actualmente que não é esse o caso), a indústria alimentar começou a introduzir açúcar e, mais tarde, xarope de milho rico em frutose, como forma de compensar a falta de sabor pela ausência de gordura nos seus produtos.
O consumo de carne/gorduras animais diminuiu e começou a ser recomendado o aumento do consumo de hidratos de carbono em geral (principalmente farinha e produtos à base de cereais processados), algumas frutas e legumes.
Foi sugerida, então, a redução de produtos animais como a carne o peixe e os ovos (todas estas recomendações têm 0% de confirmação científica, foram apenas feitas com base na hipótese não comprovada de que gordura animal causa problemas cardiovasculares). Qual foi, na verdade, o resultado disto?
O que aconteceu foi que a obesidade, as doenças cardiovasculares, a diabetes, as doenças auto-imunes e o cancro têm, desde aí, vindo a aumentar, algumas destas com um crescimento até 400%.
Carne consumida com hidratos de carbono vicia os estudos
Recentemente, tem havido um um movimento vegan/vegetariano/anti-consumo de carnes que advoga que a carne faz mal à saúde e promove uma dieta (plant-based) que é difícil de definir e cria confusão: se eu comer apenas chocolates estou em ‘plant-based’, uma vez que o chocolate não contém produtos animais?
Esta corrente “ideológica” faz prova dos efeitos nefastos da carne em estudos de ‘pergunta – resposta’ entre consumidores de carne e não consumidores de carne. Os estudos revelam ligeiras melhorias nos indicadores de saúde nos grupos sem carne, mas aqui há um problema.
Não se diz que essa carne é, na maioria das vezes, consumida num contexto dietético de presença elevada de hidratos de carbono processados, açúcares e óleos vegetais inflamatórios e um estilo de vida associado mais sedentário.
Seria preciso uma dieta saudável, tanto com carne, aumentando o aporte vegetal, como uma vegetal introduzindo o aporte de carne e produtos animais, para verificar se, dentro de uma dieta por si só saudável, existe benefício em retirar carne ou não; mas também o contrário: se numa dieta vegan há benefício de introduzir produtos animais e carne.
Bolos, massa e pão são a verdadeira causa da obesidade
Então, se a carne vermelha e afins é o problema, então os obesos comem muita carne? Não é o caso. As pessoas com diabetes são ávidas consumidores de carne vermelha? Também não.
Hoje em dia, quando vamos a um supermercado ou um café, não vemos prateleiras cheias de carne vermelha e manteiga, mas sim de cereais, de açúcar em várias formas, e refrigerantes (açúcares líquidos). Se perguntarmos a um obeso se come muita manteiga, banha de porco, bacon e carne vermelha, qual será a resposta?
Provavelmente, será ‘não’. O mais certo é que nos diga que consome bolachas, bolos, laticínios, cereais, arroz, massa, pão e fritos com os tais óleos vegetais “saudáveis”. Então, será que a culpa é das gorduras, carnes ou outros alimentos naturais, ou dos ultra-processados? Deixo ao critério da inteligência do leitor.
A mentira contada pelo documentário Game Changers
Para terminar, um breve apontamento sobre um documentário recente de propaganda a proteínas e dietas de origem vegetal (Game Changers, da Netflix) que faz parecer, do meu ponto de vista, erradamente, que um atleta pode ter melhor performance por ter uma dieta vegan.
Um atleta pode ter uma dieta inadequada e sentir melhorias a todos os níveis por fazer uma dieta de eliminação, passando a vegan. Porém, a partir do momento em que a desintoxicação acaba, é necessário reconstruir e recuperar. Aí, a dieta vegan não têm o necessário por si só, sendo necessário super-suplementar. O atleta vegan pode funcionar bem, mas dificilmente está optimizado.
Quando a apresentarem no documentário alguns atletas de competição, isto prova absolutamente nada, uma vez que para cada atleta de alta competição que tenha uma dieta vegan e classifique para uma prova, existem milhares que fazem uma dieta omnívora e também o conseguem. O argumento seria precisamente o oposto: 99,9 % dos atletas de alta competição são omnívoros.
Além disso, alguns dos atletas do documentário dizem-se ‘plant-based’ o que é indeterminado: o regime-plant based do lutador de MMA Nate Diaz inclui camarões e ovos, mas a narrativa tenta misturar os dois conceitos para que o espectador fique com a ideia de que ‘plant-based’ e ‘vegan’ pareça ser exactamente a mesma coisa.
E isto é o básico, uma vez que, para perceber a fundo o nível da manipulação de informação de Game Changers é necessário alguma formação em nutrição funcional e fisiologia humana. Mas, e se lhe disser que James Cameron (o realizador deste documentário) tem um investimento (que é público) de 140 milhões de dólares numa empresa de proteína de ervilha? Não haverá aqui um conflito de interesse? Vale a pena, também, reflectir sobre isto.