Durante meses, andou-se a construir a ideia de um Jardim Sonoro no coração da cidade. Durante três dias, a música electrónica (e não só) marcou presença na terceira edição do LISB-ON.
Não é preciso ter o ouvido assim tão apurado para perceber que o Marquês de Pombal tinha uma companhia bem mais… moderna. Bastava seguir a batida e ser conduzido até ao centro do Parque Eduardo VII, que ganhou mais uma vez o título de recinto deste Jardim Sonoro.
A forte aposta nos projectos electrónicos nacionais, com nomes como Mary B, Sweat & Smoke, Surma ou Sensible Soccers, chamava a atenção no cartaz deste ano. Mas nem só.
Com uma inteligente capacidade de aliar os nomes com mais rodagem musical, como o caso de DJ Harvey ou Marcos Valle, a nomes sonantes porém mais recentes, estava construído um cartaz diversificado. Ainda que sem os portentosos Nina Kraviz, Nicolas Jaar ou Todd Terje desta vida (e da edição passada), os fãs da electrónica conseguiam ter o seu gostinho do género ao final da noite, com sets acompanhados por convidativas animações.
Na Sexta-feira, já Escort mostravam que têm muitos motivos para suspirar por Portugal. A energia da banda era palpável e se há coisa possível de dizer é que nunca a expressão «dar tudo» assentou tão bem a uma apresentação. Recorrendo a temas como Barbarians ou Body Talk, a presença dos Escort em nada combinava com o relativamente discreto lugar dado no cartaz deste LISB-ON. Com coreografias no ponto, Adeline Michele, a vocalista, é uma bola de energia que é capaz de derreter até o público mais gelado.
Já Matthew Herbert e seus companheiros ganham pontos pelo desenrasque e capacidade de fazer música com tudo. Mesmo que seja o som de um arrancar de dentes gravado na última consulta ao dentista – que, sim, provocou um desconforto generalizado no público. Mas aquilo que interessa é causar uma reacção, não é? Com momentos de sonoridade mais onírica, Herbert tem piada e mostra que é possível fazer música em qualquer ocasião.
Há ainda a destacar Sensible Soccers e a sua Villa Soledade. Uma pena o calor não ter conseguido arrastar os visitantes do Jardim Sonoro até mais perto dos portugueses, que apresentam este segundo álbum com mestria. Ainda assim, sem ressentimentos, a banda despedia-se do jardim com uma voz robótica que entoava «obrigado por tudo, meus queridos!».
Foram vários os sucessos desta edição, mas há que destacar que a única enchente do evento aconteceu mesmo com Jungle. Os ingleses já tinham dado mostras da boa selvajaria de que eram capazes, em passagens por festivais como o NOS Primavera Sound, mais a norte. A banda foi das poucas apresentações a conseguir reunir uma frontline com poucos espaços vazios, com o fim de tarde como pano de fundo. Por entre temas como Heat, Lemonade Lake ou Drops, falaram com o público, prometeram voltar e ainda aqueceram tudo para uma festiva (e irrequieta) Busy Earnin’.
Acima de tudo, o LISB-ON curou-se da maleita que esteve associada à edição do ano passado: as filas. Durante os três dias, as entradas no recinto faziam-se sem problemas e houve um reforço nas bancas disponíveis para o carregamento cashless. Resta saber se o jardim continuará a dar flores para as próximas edições.