A Avenida Duque de Loulé, em Lisboa, tornou-se o novo porto de abrigo para um bar que aposta no rum como base de (quase) todos os cocktails. Esta bebida, associada a piratas e navegadores, cai aqui como ouro sobre azul.
A janela é bem grande, mas a porta por onde entramos para o Electric Shaker torna todo o ritual mais subtil. Sem grandes artifícios (não há toldos ou letreiros), num dos lados, há apenas uma placa em latão dourado com latão dourado e um raio dentro – é o ‘X’ que marca o local do tesouro.
Lá dentro, há uma inundação de azul – escuro, como um oceano, mas acolhedor, o que não seria de esperar de um espaço com uma cor mais fria. No entanto, aqui a estratégia funciona, especialmente com os grandes sofás em veludo da mesma cor, que acabam por ser os spots mais convidativos do espaço.
A alternativa é ficar ao balcão (com tomadas, para poder carregar o telefone) ou ocupar uma das mesas redondas que estão espalhadas pela sala, todas com quatro lugares. Aqui, está uma das únicas falhas do Electric Shaker: as cadeiras e mesas não combinam a 100% com o ambiente que encontramos.
Como todos os pormenores importam, gostávamos de ter visto mobiliário mais exclusivo, para que a homogeneidade da decoração do Electric Shaker fosse totalmente convincente. Em sentido oposto, estão os quadros e espelhos pendurados numa das paredes, com molduras douradas – é o ouro sobre azul, são os tais pormenores que namoram o olho.
Ingrediente principal: o rum domina a base dos cocktails
É no rum que o Electric Shaker aposta como base para (quase) todos os seus cocktails, que estão numa carta em que as receitas de autor se juntam aos clássicos, numa viagem à volta do mundo que nos traz sabores de várias latitudes à mesa.
Ao todo, o Electric Shaker promete «duzentas referências de bebidas espirituosas de renome internacional» que depois estão às ordens da criatividade do barman Luis Garcia, como acontece com o El Viajante, onde o copo também acaba por ser o destaque.
Com formato de uma cabeça da Ilha da Páscoa, é mais um detalhe que mostra a irreverência do Electric Shaker, apesar de aqui a bebida de base não ser o rum, mas sim o Gin Mare.
Durante a nossa visita o “par” do copo Naoki foi uma Maria Perdida, aqui sim, com a bebida do Caribe (Plantation 3 Stars Rum) a fazer de “cama” para uma mistura com chili, gengibre e sumo de citrinos (laranja e limão).
Para provar mais cocktils com rum, é só seguir as indicações da carta e seguir viagem pelos vinte e dois de assinatura, criados pelos barmen do Electric Shaker, com preços entre os 9,50 e os 11 euros.
Uma carta que nos mostra tudo; inclusive o desenho do copo
Ambiente, decoração e qualidade das bebidas à parte, talvez o grande destaque do Electric Shaker esteja mesmo na organização da carta, com um conceito que não tínhamos ainda visto noutro bar.
É que, além da explicação normal dos ingredientes, o Electric Shaker mostra-nos ainda o formato do copo onde vem a bebida, que evita aquelas mini-desilusões quando o nosso pedido chega à mesa: gostámos muito de como nos “soa” um cocktail, mas depois servem-no num copo mínimo e acabamos por ficar com a sensação de que fizemos uma má escolha; quem nunca cobiçou uma bebida alheia por vir mais bem servido (leia-se, ‘num copo maior’) que o nosso?
A carta deste bar acaba com isso, uma vez que sabemos logo a quantidade de bebida que nos vai ser servida – 150, 280, 300, 400 ml, por exemplo; para isso basta ver a indicação que aparece por baixo do desenho do copo.
Outra coisa que vai poder ver nesta espécie de ‘BI dos cocktails’ é proporcionalidade dos ingredientes, se o mesmo vem ou não com gelo, se a bebida é misturada num shaker ou num copo, a intensidade, o teor alcoólico, as notas de sabor (amargo, doce, frutado, forte, rico, suave…) e, inclusive, a guarnição – ou seja, se vem, por exemplo, com uma rodela de laranja no copo ou folhas de manjericão.
Conceito ‘pirata’ contra os bares-selva
Quem quiser fugir aos cocktails tem ainda alguns vinhos para pedir a copo (incluindo espumantes) e cerveja artesanal da Musa, além dos já habituais mocktails para quem não pode/não quer beber álcool. O Electric Shaker promete ainda alguns snacks (queijo, pão e enchidos) para picar enquanto nos vamos “afundando” neste mundo azul no centro de Lisboa.
O Electric Shaker destaca-se um pouco da oferta que conhecemos de bares, por fugir à, por vezes, irritante tendência de transformar tudo em recriações da Estufa Fria, com plantas e canteiros por todo o lado.
Aqui, o ambiente é mais clássico e funciona, sobretudo tendo em conta isso mesmo: de se destacar de um tipo de decoração que parece comprada em catálogo e que se multiplica em muitos dos novos espaços de Lisboa – e, ao ser assim, também acaba por haver aqui uma aposta pirata, de contra-poder, onde nos acabamos por realmente sentir que estamos num espaço diferente do que é habitual.