O mesmo grupo que em Portugal gere as lojas Starbucks abriu em Lisboa o seu primeiro restaurante italiano. O Ginos fica no Parque das Nações e tem uma carta específica sem glúten.
Cada vez que um restaurante novo abre em Lisboa, vêm os chavões do costume. ‘Cozinha tradicional contemporânea’, ‘ementa feita com produtos frescos’, ‘decoração acolhedora’ são alguns dos quais a que já estamos acostumados.
Invariavelmente, estes também fazem parte da descrição do Ginos, o novo restaurante italiano de Lisboa, que fica no Parque das Nações, mesmo em frente ao Pavilhão Atlântico, do lado da Torre São Gabriel.
O Ginos tem bom aspecto, com uma decoração industrial/tradicional, a fazer lembrar uma mercearia antiga, com estantes em ferro, mesas de madeira e produtos expostos. O Ginos e mais 50 restaurantes italianos (ou não) em Lisboa são assim.
Contudo, este é um conceito que acaba por funcionar: está na moda e vai levar algum tempo até esgotar, uma vez que é confortável ao olho e, na realidade, sentimo-nos bem na sala. A luz é a suficiente e a decoração restante ajuda a enquadrar o conceito ‘italiano’.
É um restaurante cheio de clichés, mas é também aquilo que resulta melhor para encher: e é isso que o Ginos quer, uma vez que assenta num conceito de rede e os seus responsáveis querem abrir «15 a 20 lojas em Portugal», já com 4 a 5 previstos para 2019.
O que também está em cima da mesa é a adaptação do restaurante ao conceito de shopping, o que pode trazer muitos clientes ao Ginos, mas que vai acabar por banalizar um conceito que poderia funcionar em regime de exclusividade, com dois ou três espaços, cuidadosamente planeados, em locais-chave da cidade.
No entanto, não é essa a estratégia do Grupo Vips, que também é detentor da licença do Starbucks em Portugal e em Espanha; aliás, a empresa é conhecida por “esgotar” os mercados onde entra, basta ver os espaços Vips que existem em Madrid, por exemplo – em quase cada rua há um.
Assim, temos um restaurante com poucos factores de diferenciação (estão lá todos os claims de ingredientes frescos vindos de Itália – mas o azeite vem de Espanha, o que é no mínimo, estranho) mas onde existem alguns pontos de luz.
O principal é o facto de haver uma ementa separada da principal, com uma arte própria em azul, onde estão os pratos, as bebidas e as sobremesas sem glúten servidos pelo Ginos – o restaurante é mesmo certificado pela Associação Portuguesa de Celíacos.
Outro pormenor: para não haver enganos, todas as sugestões para quem tem a doença celíaca são servidas em loiça azul, uma forma inteligente encontrada pelo restaurante para marcar a diferença. A pergunta é: será que os clientes intolerantes ao glúten vão gostar de ser diferenciados desta forma?
Nesta carta sem glúten há, ao todo, 22 referências, entre entradas, bebidas, sobremesas e pratos principais. Aqui encontramos um fondue de queijos, pão de alho, tiramisú, um petit gateau (o Cioccolatissimo), duas pizzas (com fiambre e a Piemontese), dois pratos de esparguete (incluíndo bolonhesa) e uma cerveja San Miguel.
Durante o almoço de apresentação, para o qual fomos convidados pelos responsáveis da marca, pudemos provar vários pratos de entradas, pizza e massa do Ginos e foi possível perceber que a qualidade está lá e que o sabor dos ingredientes é óptimo.
Contudo, não encontrámos uma grande diferença em relação a outros restaurantes do género que já visitámos, como o Jamie’s Italian ou o Otto, onde pizzas e massas são igualmente bons.
Aliás, temos a apontar duas falhas: a primeira foi a chegada de uma pizza à mesa já com parmesão, coisa que nunca se faz, já que este queijo é usado como um tempero – cada pessoa coloca a seu gosto. Depois, o tiramissú, que os responsáveis querem fazer passar como um dos melhores de Lisboa, vinha com a parte do biscoito quase congelada, o que prejudicou a degustação.
O Ginos abre em Lisboa com a perspectiva de multiplicar os seus espaços pela cidade de forma rápida, para conseguir chegar ao máximo de clientes; porém isso também pode ser um inimigo e acabar por banalizar um conceito que apesar de manter níveis aceitáveis de qualidade é apenas mais um do género, na cidade.