A ‘netflixização’ das apps chegou ao RTP Play. Apesar de não se poder comparar a esta plataforma de streaming, esta novidade da televisão pública inspira-se no design para criar uma nova forma de consumir os seus conteúdos.
Foi em 2005, há quase vinte anos, que a primeira ideia de ter um plataforma digital na Web, com conteúdos em vídeo, começou a ganhar forma na RTP. Desde então, o conceito foi-se desenvolvendo e a televisão pública tem sido, reconhecidamente, a TV que mais tem apostado no segmento.
No streaming em directo de emissões e repositório de programas ou séries, conhecemos apenas o TVI Player – contudo, a sua interface não é das melhores que já experimentámos, o que acaba por estragar um pouco a interacção com os conteúdos desta estação.
RTP Play: o exemplo de uma ‘netflixização’ bem feita
Este erro não parece ter sido cometido pela RTP, já que a sua nova app que agrega estações de rádio, programação em directo, filmes, séries e documentários segue um design muito próximo do que foi tornado popular pela Netflix; fundo preto, conteúdos identificados por thumbnails com imagens, e divisão por categorias, na lateral esquerda.
A identificação com o modelo Netflix é natural: trata-se de uma interface de utilização que fez escola no seu género e que, por isso, é natural ser adaptada a outras apps, com conceitos semelhantes. Embora não se possa dizer que ambas tenham o mesmo objectivo, a associação é natural.
Contudo, a RTP Play não é, «nem nunca será», segundo João Pedro Galveias, director da área multimédia da televisão pública, uma plataforma paga. No futuro, o responsável diz apenas que vai haver login de utilizadores, o que vai servir para, por exemplo, ver um episódio de uma série que deixámos a meio no smartphone, no exacto ponto onde o deixámos no browser.
Forma de negociar os direitos de emissão tem de mudar
Outra coisa possível, com o login, será ver conteúdos que tenhamos marcado como favoritos ou aceder a programas de rádio (os tradicionais podcasts) cujo download tenha sido feito para ouvir offline – para já, e por uma questão de direitos, isto não vai ser possível para o vídeo.
A questão dos direitos é, para João Pedro Galveias, essencial para negociar conteúdos que a RTP quer disponibilizar na app RTP Play: «Tem de haver uma nova forma para fazer contratos, temos de mudar aquilo que é tradicional e que está feito apenas para passar na televisão».
Estas correntes que muitos conteúdos têm, mesmo os originais RTP, fazem com que os direitos de exibição limitem o acesso a filme ou série – é por isso que, em alguns conteúdos, vamos ver um sinal laranja com um número a indicar quantos dias restam para os podermos ver. Um dos objectivos de João Pedro Galveias é aumentar esta «janela temporal» para que um utilizador possa ver uma série completa sem estar preocupado com a data que obriga a que a RTP retire o conteúdo da app.
Jornalismo e entretenimento: a oferta eclética da RTP Play
Além da programação em directo da RTP, RTP 2, RTP 3 e das emissões das ilhas ou RTP Internacional, a app tem ainda canais exclusivos, como os RTP Desporto, onde vão passar em directo várias competições desportivas de 2020, incluindo os Jogos Olímpicos de Tóquio, à semelhança do que já aconteceu este ano. A outra grande aposta é a disponibilidade de concertos e outros momentos culturais na seção ‘Palco’.
A oferta de filmes nacionais e estrangeiros é, ainda um pouco limitada, mas estão lá, por exemplo, Perdidos, Colo, Tarrafal, Refrigerantes e Canções de Amor e os remakes A Canção de Lisboa e o Pátio das Cantigas, este último o filmes português mais visto de sempre nos cinemas.
Mais forte é são os conteúdos jornalísticos, como as reportagens do Sexta às 9 e da Linha da Frente, as séries nacionais (que até podem chegar em ante-estreia, como aconteceu com 1986, e onde se destaca Luz Vermelha e Sul) e os podcasts de rádio da Antena 3, Antena 1 e Antena 2.
Resta dizer que a nova RTP Play está disponível para iOS (incluindo Apple TV e Car Play) e Android, estando prevista ainda a chegada às TV Samsung e LG que não tenham sistema operativo da Google (o Android TV). A partir do telemóvel, é ainda possível enviar os conteúdos para Chromecast e, claro, para uma Apple TV.