Crítica: The Nun – A Freira Maldita

The Nun - A Freira Maldita
The Nun - A Freira Maldita

O Universo Conjuring acaba de receber, de braços bem abertos, uma prequela que nos explica a origem da freira maldita.

O pontapé de saída do MOTELX 2018 foi dado com The Nun – A Freira Maldita, numa sessão de ante-estreia exclusiva e rodeada de medidas de segurança fora do normal.

Isto explicou-se pelo facto de este ser um dos primeiros visionamentos para o público a nível mundial do episódio inicial do Universo Conjuring.

Toda a gente foi obrigada a assinar um NDA (convidados e jornalistas) e a sala tinha seguranças para garantir que ninguém puxava do telefone para fotografar ou filmar o ecrã do cinema São Jorge.

A questão é: será que este hype em torno de The Nun se justifica e será que esta foi uma boa escolha para abrir o MOTELX? É inegável que contar com uma sessão exclusiva de um filme, a nível mundial, é sempre um bom cartão de apresentação para qualquer festival.

Sobretudo, quando estamos a falar de um evento português, que nem sempre tem o mesmo reconhecimento (merecido) a nível internacional que outros festivais do género, que acontecem nos principais países da Europa, por exemplo.

The Nun é um nome sonante, já vinha sendo antecipado há algum tempo como uma das estreias do ano no seu género e, vendo bem as coisas, acaba por se compreender a decisão do MOTELX em escolher este filme para abrir as hostes.

Contudo, é incompreensível que a organização não tenha colocado bilhetes à venda para esta sessão, relegando tudo para passatempos com vários parceiros; nem a acreditação de imprensa servia para ter lugar garantido na sessão de abertura.

Quando sabemos que a sessão de abertura serve sempre para os organizadores explicarem como vai ser o MOTELX, apresentar as competições e masterclasses, bem como mostrar alguns trailers, fica ainda mais complicado perceber a decisão de quem manda no festival.

É claro que os jornalistas acabaram por conseguir convites e, assim, contornar este problema que, sugestão nossa, não se deve voltar a repetir edições futuras.

Apesar de considerarmos uma boa escolha pelas justificações que já demos, enquanto produto cinematográfica, The Nun é muito fraco, sobretudo na sua narrativa.

Esta vive, essencialmente, de levar o espectador de jump scare, em jump scare, a grande maioria bastante previsível, o que se torna algo cansativo. Parece que esta é a única forma de nos colar à história do filme, o que revela pouco empenho em tornar a obra interessante per si.

O que também não ajuda é o papel de bobo da corte desempenhado por Jonas Bloquet (Maurice “Frenchie”), o comic relief totalmente falhado de The Nun, com piadinhas salpicadas ao longo de todo o filme, 99% sem qualquer nexo e que levam o público a desatar às gargalhadas, numa manifestação saloia e parola.

Aliás, mesmo em cenas pesadas, e com alguma carga dramática, o público do São Jorge não hesitou e rir-se como se estivesse a ver uma comédia, o que faz também pensar sobre o papel de formação de públicos que festivais como o MOTELX deve ter.

Enquanto produto de filme de terror jump-scare, The Nun acaba por ser uma obra de referência dos últimos anos, aliás muito na linha dos filmes Conjuring e Annabelle, em que os demónios saltam, aparecem, mostram-se e gritam de repente.

O público assusta-se e ri, acabando para transformar tudo num circo, onde a comédia e o terror dão as mãos em alturas que deviam ficar mais separados, para o bem da “saúde” do próprio filme.

Outro dos grandes problema de The Nun é o casting: Démian Birchir, que interpreta o Padre Burke, um enviado do Vaticano à Roménia para investigar a morte de uma freira, é um canastrão de primeira e nunca convence no seu papel de homem do clero.

Há uma razão para isto: Démian Birchir passou os últimos anos a fazer de canastrão-mor em filmes de acção como Alien: Covenant, 7:18, The Hatefull Eight ou Machete Kills.

O papel de galã de Jonas Bloquet nem sequer se percebe muito bem: é um francês a viver no centro da Roménia, que foi lá parar à procura de ouro (todavia, um facto histórico, já que o país tem os maiores reservas de ouro da Europa). Não seria mais credível e simples encontrar uma personagem romena para desempenhar este papel?

Um dos únicos pontos de luz de The Nun é mesmo a interpretação da Taissa Farmiga, a noviça que acompanha Anthony Burke na investigação ao Convento de Carta e que rouba quase todas as atenções do filme. A irmã de Vera Farmiga (protagonista dos filmes Conjuring) foi muito bem escolhida e quem conhecer esta saga vai perceber logo por quê.

O realizador Corin Hardy tem no currículo várias curtas e, talvez, não tenha sido a melhor escolha para carregar às costas o filme que explica a origem do mal do Universo Conjuring.

Como notas finais, fica na retina um filme globalmente “pesado”, onde o oculto e a religião se entrelaçam para dar vida a um demónio assustador e a um filme que vive demasiado dos jump-scares que provoca, deixando quase tudo o resto para um plano secundário.

Para conhecer mais sobre a história de The Nun e de como se integra no Universo Conjuring, pode ler o guia do MOTELX feito pelo TRENDY, onde dedicamos a primeira parte a este filme que abriu o festival.

Começou no jornalismo de tecnologias em 2005 e tem interesse especial por gadgets com ecrã táctil e praias selvagens do Alentejo. É editor do site Trendy e faz regularmente viagens pelo País em busca dos melhores spots para fazer surf. Pode falar com ele pelo e-mail [email protected].