Dolphin Surf: conduzimos o citadino irreverente da BYD que parece ter nascido do amor entre dois Lamborghinis

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O Dolphin Surf chegou a Portugal como o primeiro modelo do segmento A da marca chinesa a ser vendido na Europa. De gaivota, passou a desporto aquรกtico.

O segundo Dolphin da BYD a ser vendido por cรก assume uma designaรงรฃo diferente de outros mercados: em vez de Seagull รฉ ‘Surf’, uma palavra que transmite agilidade e que traz um modo de vida descontraรญdo/num ambiente citadino stressante. A verdade รฉ que este pequeno elรฉctrico cumpre a promessa, mas vai mais longe, como vamos perceber ao longo deste teste.

Assim que vemos o Dolphin Surf, percebemos de imediato que o aspecto exterior รฉ um dos seus pontos altos. Com linhas desenhadas por Wolfgang Egger, antigo designer da Lamborghini, o Surf inspira-se no Huracรกn, algo que se nota nas รณpticas dianteiras e na agressividade do pรกra-choques frontal. Nรฃo foi ร  toa que este modelo foi eleito o ‘Melhor Citadino Mundial do Ano 2025‘ nos World Cars Awards, o primeiro prรฉmio internacional da marca nesta competiรงรฃo.

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O spoiler traseiro acrescenta um toque desportivo e as formas da traseira fazem-nos lembrar um Cupra Born, enquanto o perfil geral tambรฉm faz lembrar o Chevrolet Spark. Este รฉ mesmo um dos automรณveis mais belos que conduzimos este ano, com carรกcter e uma estรฉtica que resulta tanto ร  frente como atrรกs. Contudo, convรฉm dizer que a cor preta Polar Night Black (um extra de 750 euros) lhe rouba algum do encanto que a gratuita Lemon Green, com que o Surf รฉ promovido, evidencia melhor.

Por dentro, hรก uma abordagem mais minimalista do que aquela a que a BYD nos habituou em outros modelos, como o Atto 3. O habitรกculo combina plรกsticos duros com materiais mais suaves, numa paleta de cinzentos e pretos que lhe dรก um ar sรณbrio. O painel de instrumentos de sete polegadas รฉ o mais pequeno da gama da marca, mas nem por isso ficou mais livre de informaรงรฃo.

Continua a haver muitos indicadores a encher o display, ladeados pelas indicaรงรตes de potรชncia e regeneraรงรฃo ร  esquerda; consumos e pressรฃo dos pneus ao centro; e autonomia e velocรญmetro ร  direita. Gostรกvamos que houvesse alteraรงรตes grรกficas consoante os modos de conduรงรฃo โ€“ ‘Eco’, ‘Normal’, ‘Sport’ (e ‘Neve’), mas isso nรฃo acontece.

A travagem regenerativa sรณ tem dois nรญveis โ€“ ‘Padrรฃo’ e ‘Elevado’ โ€“ mas a diferenรงa รฉ quase imperceptรญvel e nenhum imobiliza totalmente o carro. Jรก os sistemas de assistรชncia ร  conduรงรฃo mantรชm-se demasiado intrusivos, como รฉ um clรกssico da BYD: os alertas soam constantemente (sobretudo o de falta de atenรงรฃo do condutor) e nรฃo hรก forma simples de os desligar, o que se torna cansativo.

O ecrรฃ tรกctil central de 10,1 polegadas mantรฉm a particularidade de rodar entre horizontal e vertical, embora o efeito seja menos impressionante que noutros BYD. Isto acontece devido ao facto de ser mais pequeno e de ter barras pretas muito pronunciadas, o que afecta um pouco a experiรชncia – isto รฉ muito associado a smartphones mais antigos e de gama baixa.

O software da BYD continua funcional, mas jรก merecia uma revisรฃo grรกfica. O volante e os botรตes da consola central sรฃo outro ponto onde se nota alguma falta de cuidado, sinais das concessรตes para reduzir o preรงo do Surf. Em ambos os casos, os comandos tรชm um ar datado e transmitem fragilidade.

Sobre o espaรงo de arrumaรงรฃo, a รกrea da parte inferior da consola central รฉ generosa e prรกtica, mas pouco acessรญvel devido ร  prateleira superior, faltando ainda um alรงapรฃo sob o apoio de braรงo. Hรก portas USB-A e USB-C, tomada de 12 V e uma รบtil base de carregamento sem fios Qi (das mais bem posicionadas que temos visto), mas os passageiros traseiros ficam sem portas USB. Jรก os bancos surpreendem pela qualidade: sรฃo elรฉctricos e aquecidos, nesta versรฃo mais cara, com um conforto digno de modelos de segmentos mais acima.

Apesar de estar inserido num segmento cada vez mais esquecido pelas marcas, o Surf prova que faz todo o sentido manter viva a oferta de pequenos elรฉctricos urbanos, onde jรก estรฃo modelos como o Hyundai Inster, o Renault 5 E-Tech ou o Dacia Spring.

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No entanto, este BYD consegue “ultrapassar” as muralhas da cidade: leva quatro pessoas de forma confortรกvel e atรฉ surpreende na bagageira, com 308 litros que deram para transportar uma prancha de bodyboard e trรชs mochilas sem dificuldades. Desta forma, o espaรงo a bordo foi mesmo das melhores surpresas que tivemos com o Surf.

A outra foram os consumos: durante o nosso ensaio, fizemos cerca de 400 km com 80% de carga, com o consumo final a ficar nos 13,6 kWh/100 km (nesta versรฃo Comfort, temos uma bateria de 43,2 kWh e um motor de 156 cv). Recorde-se que, segundo os registos da marca, o Surf tem uma autonomia de 310 km, que sobe para 460 km em ciclo urbano, com consumos anunciados de, respectivamente, 16 kWh e 10,8 kWh/100 km.

Depois de quase uma semana ao volante do BYD Dolphin Surf, a conclusรฃo รฉ a de este รฉ um automรณvel bastante eficiente, รกgil, divertido de conduzir: nasceu para a cidade, mas nรฃo se esgota nas ondas da selva de betรฃo. Este golfinho dรก, claramente, para outras surfadas. Resta dizer que este modelo estรก disponรญvel a partir de 20 885 euros, sendo que a unidade testada tem um preรงo final de 28 673 euros.

Comeรงou no jornalismo de tecnologias em 2005 e tem interesse especial por gadgets com ecrรฃ tรกctil e praias selvagens do Alentejo. ร‰ editor do site Trendy e faz regularmente viagens pelo Paรญs em busca dos melhores spots para fazer surf. Pode falar com ele pelo e-mail [email protected].