Recentemente, tem começado a dar nas vistas uma forma de ver a alimentação humana bem diferente da última tendência de dietas à base de produtos de origem vegetal: a dieta carnívora.
O nome desta dieta/tendência foi inicialmente ‘Zero Carb Diet’ (a dieta dos 0 hidratos de carbono) e que passou, nos últimos anos, a chamar-se ‘Carnivore Diet’. Esta dieta tem sido divulgada e popularizada na comunidade low-carb (cetogénica/paleo) e tem como figuras emblemáticas, entre outros, Shawn Baker e Paul Saladino – ambos médicos.
Além disso, a dieta carnívora tem um apoio baseado em pesquisa que confirma algumas vantagens associadas a uma dieta alta em proteínas de alto valor biológico, por académicos: entre estes estão Benjamin Bikman (especialista em metabolismo das proteínas e bioenergética) e Gabrielle Lyon (especialista em síntese e metabolismo proteico e efeito metabólico do tecido muscular).
Comer carne é a “fórmula” nutricional mais eficiente e completa
Embora não existam ainda estudos feitos e publicados sobre a dieta carnívora em humanos, os testemunhos de pessoas que experimentam (o apresentador Joe Rogan e o escritor Jordan Peterson são exemplos de figuras públicas) estão a ter resultados positivos na ordem dos 95%, sendo que não se conhecem, dentro da comunidade, resultados adversos, existindo apenas uma pequena percentagem que, por razões sociais e de estilo de vida não se sente confortável com a dieta.
Alegadamente, esta dieta está a reverter diabetes, a controlar cancros, a reverter doenças autoimunes e a melhorar a constituição corporal de quem a experiência, dando aos seus seguidores menos gordura e mais músculo. Ora, isto entra em contradição com a ideia de que a carne tem efeitos adversos na saúde humana.
Os proponentes desta dieta alegam que o ser humano sempre evoluiu maioritariamente com o consumo de carne e que a carne consumida num contexto em que não estão presentes o açúcar, as gorduras vegetais e os hidratos de carbono processados ou altos em glucose. Desta forma, a dieta carnívora não terá qualquer problema, muito pelo contrário: é a “fórmula” nutricional mais eficiente e completa (os testemunhos parecem comprovar isto).
Mas os defensores desta abordagem nutricional vão ainda mais além e alegam que algumas pessoas não toleram os fitoquímicos presentes naturalmente nas plantas e, por isso, só conseguem atingir a saúde óptima ao retirar qualquer alimento de origem vegetal da sua dieta. Também aqui existem testemunhos de indivíduos que tinham problemas ligados ao metabolismo e doenças autoimunes, mesmo estando a fazer uma dieta saudável, e que reverteram a sua condição a partir do momento em que eliminaram os vegetais.
Uma alimentação mono-tipo para o equilíbrio hormonal
A dieta carnívora baseia-se nos princípios da dieta de eliminação. Se tivermos de escolher apenas um tipo de alimento para consumir durante um dado período de tempo (um mínimo de quatro semanas, que pode ser prolongado de forma indeterminada, então só existe um tipo de alimento: a proteína de origem animal, rica em gorduras naturais, especialmente de animais ruminantes.
Com a dieta carnívora podemos estar, ao mesmo tempo, sem deficiências nutricionais, bem nutridos e com uma carga mineral nos rácios certos (sem promover a inflamação crónica), de bom trato intestinal e sem ter respostas alérgicas, na maioria dos indivíduos.
Ao fazer uma alimentação mono-tipo podemos, de uma só vez, caminhar na direcção do acerto mineral, do equilíbrio hormonal, da redução ou eliminação da inflamação crónica, do controle das diabetes tipo II e resistência à insulina associada, da conservação e melhoria da massa muscular magra, bem como reparação da função intestinal.
Mas há mais benefícios: o controlo dos níveis de insulina e glucose no sangue, a promoção da saciedade, ao mesmo tempo que se criam condições para reduzir gordura corporal, eliminando a maioria dos alimentos insulinogenicos, pró inflamatórios e/ou tóxicos.
Posteriormente poderão ser re-introduzidos outros alimentos, permitindo detectar, na prática, qual o trato e reacção sintomática a cada um deles – é dentro destes moldes que se baseia a dieta carnívora.
Agricultura regenerativa e criação bio de gado são amigos do ambiente
E quanto ao ambiente? Os adeptos deste tipo de dieta defendem que existe «um exagero» na descrição dos recursos necessários para a criação de gado e valorizam a compra de produtos locais, provenientes de agricultura regenerativa e sustentável. Sobre a alegada água consumida pelo gado, 85 a 90 % são águas verdes, da chuva, mas que são apresentadas de forma indiscriminada.
No que respeita à morte de animais, segundo as fontes e investigações feitas pelo lado dos ‘carnívoros/omnívoros’, as monoculturas de trigo, palma, soja, ervilha, entre outras, secam mais os solos, usam mais químicos, gastam mais combustível e matam milhões de pequenos animais (roedores, pássaros) e insectos que são desprovidos do seu ecossistema. São estes pequenos animais que comem essas mesmas culturas, que contêm, proporcionalmente, doses mortais de químicos.
Além disso, estas culturas não vão directamente para consumo, como a carne, mas sim para fábricas de processamento, fábricas essas que gastam também recursos e produzem poluição. Feitas as contas, os defensores desta abordagem dizem que, na verdade, o melhor amigo do ambiente é a agricultura regenerativa (em que se faz rotação de cultura entre criação de gado e cultivo de vegetais ambos de forma biológica) e a criação local.
Meatrx: um site dedicado à dieta carnívora com muita informação
Na dieta carnívora não se contam calorias existe apenas preocupação com o tipo e qualidade do que se ingere e com o rácio de proteína/gordura que melhor se adequa a cada indivíduo. Tendo por base a capacidade saciante de uma dieta alta em proteínas animais, a tendência com o perpetuar da dieta será a redução de calorias de forma espontânea e sem esforço.
Shawn Baker acredita tanto nas vantagens desta abordagem nutricional que criou o site MeatRx, onde se concentram testemunhos de pessoas que fizeram, ou estão a fazer, a dieta, entre elas ex-vegans que entraram em deficiência nutricional ou vegetarianos que afinal tinham intolerância a alguns vegetais.
Neste espaço está disponível, de forma gratuita, pesquisa relacionada com o assunto, estudos publicados que podem ajudar a compreender os resultados positivos da dieta e outras informações divididas em tópicos, como tipos de patologias que podem beneficiar com uma intervenção deste género.
O importante é não haver deficiências nutricionais nas dietas
Outras pesquisas indicam também que o sistema digestivo humano é mais parecido com o de um animal carnívoro que com o de um herbívoro ou frutívoro. A antropologia e paleontologia parecem confirmar o consumo elevado de produtos animais ao longo da evolução humana, dando deste modo a entender que os humanos não estão preparados para digerir quantidades demasiado elevadas de fibra e matéria vegetal.
A minha opinião é que a maioria dos humanos tolera alguma carga vegetal. Decididamente, os humanos sempre consumiram frutas, mas fica por determinar qual a frequência e tipo desse consumo. Na verdade, parece haver, recentemente, mais informação que aponta no sentido de algumas pessoas terem fraca tolerância aos vegetais, podendo por isso beneficiar com a limitação ou eliminação do seu consumo, desde que numa dieta formulada de modo a não existirem deficiências nutricionais.
Nem tudo é negro, nem tudo é branco. Mas enquanto permanecer tudo cinzento, nunca ninguém vai chegar a conclusão alguma e haverá sempre quem muito beneficie com a “ignorância nutricional”.