Crítica: Trilogia Todas as Almas

Trilogia Todas as Almas
Trilogia Todas as Almas

Twilight e Harry Potter encontram-se numa versão para adultos pelas mãos de Deborah Harkness, uma professora de História.

A história centra-se em Diana Bishop, uma jovem historiadora de Yale com uma reputação invejável, que esconde um passado bastante mais curioso e esotérico. Ela é a última descendente de uma das famílias mais famosas das bruxas de Salem, as Bishop.

No que seria uma simples requisição na biblioteca de Oxford, o poder de Diana Bishop faz-se notar quando um manuscrito medieval sobre alquimia desaparecido há séculos, reage ao seu toque.

É neste momento que nos apercebemos de que o mundo não pertence apenas aos humanos: bruxas, vampiros e demónios vivem entre nós, regidos por uma Congregação com regras definidas na época do fim das Cruzadas.

A frágil paz mantida pela congregação fica especialmente ameaçada quando todos os seres (excepto os humanos, que estão “a leste do paraíso” e não se apercebem de nada) tentam alcançar o livro.

Até aqui só temos um pouco de Harry Potter, mas passamos rapidamente a Twilight, quando juntamos um charmoso vampiro de 1500 anos à equação. Matthew De Clairmont é um vampiro geneticista que procura o manuscrito Ashmole 782 há alguns séculos, sempre sem sucesso.

Esta sua busca está relacionada com a preservação das espécies mágicas, porque se acredita que esse livro conta como surgiram os primeiros seres. Já as bruxas acreditam que o livro esconde a chave para destruir os vampiros e que será um grimório (uma colecção medievais de feitiços, rituais e encantamentos mágicos).

É assim que arranca o primeiro volume desta trilogia, A Noite de Todas as Almas. O título original é A Discovery of Witches e já se tornou uma série de televisão, ainda sem previsão de estreia em Portugal.

Bishop é uma bruxa que tentou sempre manter-se afastada da magia e acredita não ter poderes que valham a pena considerar, mas tudo parece indicar o contrário.

Rapidamente surgem sentimentos entre Diana Bishop e Matthew De Clairmont, o que ao estilo de Romeu e Julieta, viola uma das regras principais da Congregação: são proibidas as relações entre espécies. Claro que isto só podia dar origem a vários inimigos e contratempos.

Poderíamos torcer o nariz a este romance do fantástico, mas Deborah Harkness deu-lhe profundidade e escuridão suficiente para o manter interessante para adultos e jovens adultos. A dor, a obrigação e a responsabilidade também estão sempre presentes. A autora investe na descrição para nos transportar para dentro da acção e permitir-nos sentir mais intensamente todos os espaços envolventes.

No segundo livro, Nas Trevas da Noite, os conhecimentos de história da autora tornam-se mais evidentes e ela explora-os com inteligência. Além de toda a magia e história, Harkness junta-lhe espionagem, adensando a trama com mais mistério.

O final do século XVI foi o momento escolhido para o desenrolar do segundo livro, onde Matthew De Clairmont desenvolve uma postura diferente e liberta parte da natureza que sufocou ao longo dos séculos, até se tornar o homem/vampiro que conhecemos no primeiro volume.

É a partir deste momento que as feministas mais acérrimas poderão sentir alguns calafrios, mas quero deixar uma nota: estamos a falar de um ser imaginário que, apesar de tão romantizado na literatura, é um predador.

Devemos manter também presente que as atitudes têm origem no grande amor que sente por Diana. A sensação de perda estará muito presente para as duas personagens principais, permitindo ao mesmo tempo aumentar ainda mais a empatia que temos por elas.

Neste volume surge também um elemento mágico que se revela de grande importância, mas que é algo confuso e complicado de imaginar. Aceitamo-lo como existente, mas é difícil visualizá-lo quando tentamos imaginá-lo.

Busca do Livro da Vida é o último livro da Trilogia. Surpresa, horror, sangue, trauma, amizade e esperança aparecem misturados numa teia complexa e viciante, que não nos deixa pousar o livro. Infelizmente um dos momentos que seria de maior luta e demonstração de força, revela-se rápido, básico e até algo entediante.

O momento, até esse confronto, arrasta-se durante grande parte do livro e vamos vendo o livro a chegar ao fim sem resolução, para depois terminar abruptamente.

Não está relacionado com a escrita, mas depois de tantos acontecimentos e de uma imaginação tão fértil, ficamos a sentir que Deborah devia ter dado mais espaço e tempo a este confronto mágico.

É neste livro que a independente Diana Bishop se afasta mais da personalidade que tinha no início, tornando-se mais obediente. Se, por um lado, usamos as mesmas justificações que no segundo, para as mudanças, por outro existe uma certa “desconstrução” da personagem principal, que volta a surgir em vários momentos, mas que não regressa na totalidade.

Em última análise, e já com toda a história lida, é uma trilogia vibrante, das que se lêem sem parar até à última página; logo que terminamos um livro pegamos no seguinte.

É o fantástico de todas as espécies que cria a trama problemática, para que não seja apenas um livro sobre um amor avassalador. Mas esse amor está sempre presente, e não deixa de ser a “cola” que une toda a história e mantém o lume aceso.

Recomenda-se a leitura, especialmente se quiser estar preparado para a possibilidade de a série poder vir a estrear em Portugal. Se não vier, tem sempre a hipótese de a encontrar online.

Começou como jornalista em 2011 na revista PCGuia e em 2013 tornou-se editora do programa de televisão LOGIN PCGuia. É apaixonada por novas tecnologias e adora moda e decoração. As suas outras paixões incluem os animais, bons restaurantes e, como a maioria das mulheres, sapatos!