Paus, pedras, pontes, guerrilha e ultramar: o Culture Clash voltou

Culture Clash 2018

Com inspiração nas batalhas sonoras jamaicanas, o juiz final do Red Bull Music Culture Clash é um sonómetro, colocado no centro do Coliseu de Lisboa. À volta, o público divide atenções entre quatro palcos, ocupado por quatro crews. No final, há apenas um vencedor e muitas surpresas.

Depois de uma bem-sucedida edição, em 2016, ontem foi noite de regresso do Red Bull Music Culture Clash a Lisboa, com o título a ser dado à crew PAUS e Pedras – não em formato de cinturão, mas em disco, mesmo.

A apresentação esteve a cargo de Carlão e Alex D’Alva Teixeira – que repetiram a dose no Culture Clash, ainda que com papéis diferentes, no caso de Carlão. Em 2016, o eterno Pac-Man esteve na crew Cloud Atlas, liderada por Branko – equipa que foi a primeira vencedora da edição lisboeta da batalha sonora. Agora, era tempo de mudar a perspectiva, ainda que com a sabedoria de quem já esteve no lado dos ‘gladiadores’.

Nesta batalha, em que vale quase tudo – desde ‘picar’ os adversários com letras alteradas, fazer transportar objectos pelo público – há, ainda assim, regras a cumprir. Há que obedecer aos temas dos vários rounds e não repetir malhas.

As crews já eram conhecidas e mostravam misturas, no mínimo, surpreendentes: Capicua e a Guerrilha cor-de-rosa, composta por M7, Eva Rap Diva, Blaya, Ana Bacalhau, Marta Ren e DJ D-One, enfrentaram PAUS e Pedras (PAUS, DJ Glue e Mike El Nite, Silk e Holly Hood a cargo de liderar a frente de palco), Richie Campbell apresenta Bridgetown (DJ Dadda, Ben Miranda, Plutónio, Dengaz, General Gogo, Mishlawi e Luís Franco Bastos) e ainda Ultramar, com Rui Pregal da Cunha, vocalista dos Heróis do Mar, acompanhado pelos Capitão Fausto, Memória de Peixe e Throes + the Shine.

Round one, fight

O primeiro round pode não valer pontos, mas mostra bem a quem não conhece aquilo que se podia esperar da noite, além de dar oportunidade aos membros da crew de darem um cheirinho daquilo que é a sua interpretação da caminhada para a vitória.

Para a Guerrilha Cor-de-Rosa, as primeiras a entrar em palco, o nome faz jus à indumentária: de rosto tapado com máscaras cor-de-rosa, lantejoulas à mistura e a palavra em dia, a equipa feminina não estava para brincadeiras. Se é para combater, é para entrar logo a matar, com um clássico: Hip Hop, de Boss AC, que traria bons resultados ao Coliseu.

Para os PAUS e Pedras, a mistura entre Silk, Mike El Nite e Holly Hood resulta bem. Silk viria a marcar a noite, não só pelas múltiplas mudanças de guarda-roupa: se ao início assumiu a indumentária de fauno, mais tarde passaria por domador de circo ou ainda um marinheiro. Nota relevante: ver PAUS a acompanhar uma imponente versão de It’s A Man’s Man’s Man’s World, de James Brown, ia marcar a noite.

Na crew Bridgetown, homenagearam-se os clássicos do reggae, com muitos dos trunfos a irem beber ao reportório de lendas como Bob Marley. Uma cartada sempre eficaz, já que não há quem não saiba acompanhar clássicos como Don’t Worry, Be Happy, por exemplo. Mais tarde, a crew de Richie Campbell teria ainda tempo para um mini stand-up de Luís Franco Bastos ou ainda uma gravação deixa por Toy ou pelos Xutos e Pontapés.

A saber bem que o primeiro round não valia pontos, a equipa Ultramar aproveitou para entrar em teatralidades e deixar a música de lado. Sempre liderados por Rui Pregal da Cunha, a crew viria, mais tarde, a recorrer ao clássicos dos Heróis do Mar. Paixão, Alegria… Talvez até em demasia.

Culture Clash 2018 Guerilha cor de rosa

As surpresas da noite

A Guerrilha Cor-de-Rosa soube mexer com os sons virais que andámos a ouvir nos últimos anos: Beijinho no Ombro, com direito a uma aparição da drag queen Rebecca Bunny, ou até a uma Que Tiro foi Esse – que atire a primeira pedra quem ainda não viu as interpretações virais desse vídeo… Além disso, ainda sacariam da manga Camané ou Bruno Nogueira a interpretar Taras e Manias, de Marco Paulo.

Bailarinas clássicas ou cantoras líricas em Ultramar, Gson dos Wet Bed Gang ou Mayra Andrade para Bridgetown ou Carla Moreira a acompanhar PAUS e Pedras. É necessária atenção para conseguir acompanhar todos os convidados especiais que marcaram cada um dos 15 minutos de round final das crews.

No final da noite, a vitória esteve renhida entre Bridgetown e PAUS e Pedras. E quando se diz renhida, fala-se mesmo numa diferença muito reduzida, de 0,1 decibéis, que acabaria por favorecer PAUS e Pedras.

Fotografias cedidas pela organização.

Sonha ter um walk in closet desde pequenina, mas enquanto isso não acontece, contenta-se a coleccionar maquilhagem e anéis. Não consegue resistir a uma boa sobremesa e a um belo livro. Passa a vida a ouvir música e tem uma lista de todos os concertos que já viu.