Há duplas que são como a música de Tom Jobim: samba de uma nota só. Na pauta, parece que tudo funciona bem, mas depois, no que se vê (ou se deixa ver), só existem mesmo um dó.
É o que costuma acontecer quando determinada pessoa (casada, enamorada, prisioneira) começa a mostrar a vida no Instagram: onde vivem duas pessoas (aparentemente), só uma respira.
A outra, como é óbvio, vive ligada a garrafa de oxigénio em forma de rapariga; é o quarto que só tem o seu “closet”; o terraço que só tem a sua cadeira; é a cozinha que só tem as terrinas da avó; é a casa de banho onde nem uma lâmina para cortar a barba há – só para fazer a depilação das pernas.
Dúvida: o homem vive na casa ou paga bilhete para ver o showroom? No fundo, é uma vida que só a tem a ela. O culto da personalidade num casal é, como é de esperar, perigoso, mesmo que tudo tenha nascido de um feliz acaso.
A anulação de um ser humano em relação a outro (para agradar, para venerar, enfim, para servir de alimento e cão de fila) é pior que o cárcere.
Enquanto entre quatro paredes, alheado do mundo exterior temos, enfim, tempo para o nosso próprio mundo, numa relação onde somos um acessório somos obrigados a viver o mundo do outro.
E é triste que isso aconteça, invariavelmente, sob forma de pau de selfie humano.