Crítica: Split

Fragmentado conta a história de uma personagem retorcida, interpretada por James McAvoy, que vive o drama de ter de lidar com 23 personalidades.

Falar em drama é falar, neste caso, em transtorno dissociativo de identidade. Shyamalan está de regresso ao grande ecrã, depois de uma experiência falhada com A Visita, em 2015.

O come̤o do filme faz, de alguma maneira, lembrar Saw: somos confrontados com a presen̤a de tr̻s raparigas num quarto fechado, num momento de muita tenṣo. Em breve percebemos o que aconteceu Рhouve um rapto e estas ref̩ns t̻m um captor muito particular.

Este é interpretado de forma fantástica por James McAvoy, o Professor X dos mais recentes filmes X-Men, que revela aqui a seu mais consistente papel em filmes do género, a um nível em que só o encontramos em O Último Rei da Escócia (2016).

Foi, então, preciso esperar dez anos para ver um McAvoy de muito trabalho, empenho e entrega total a uma personagem nada fácil de interpretar. Aliás, é errado falar apenas num papel: neste filme, onde retrata uma pessoa com transtorno dissociativo de identidade, vemos nove pessoa, cada uma delas muito diferente.

Entre estas, destacam-se três: Hedwig, a criança de nove anos, inocente, medrosa e que, a certo ponto, parece querer ajudar as três raparigas; Barry, o estilista com OCD que aparece sempre nas consultas da sua psiquiatra Dr. Karen Fletcher (Betty Buckley); e Dennis, o mauzão, a personagem que domina o lado negro de McAvoy e que, com a personalidade Patrícia, é o responsável pelo rapto.

O filme, acaba, por isso, por ser um carrosel de interpretações marcantes e imaculadas, em que não há qualquer ligação entre as diferentes personalidades; isto faz com que cada uma delas pareça ser a única feita por McAvoy no filme, de tão bem caracterizada que está.

Não há dúvidas que a carga dramática de Split, e o suspense que o filme nos oferece a rodos, está sempre muito dependente do que McAvoy vai fazendo ao longo da produção mais longa feita até ao momento por Shyamalan: 117 minutos.

Do outro lado, do conjunto das três raparigas raptadas (que disputam o resto do screen time com Betty Buckley), o nome maior é Anya Taylor-Joy, apontada como grande promessa de Hollywood e que já nos tinha ficado na retina em The Witch.

Apenas com três anos de experiência em grandes produções, o papel de “líder” teen cai-lhe bem, fá-la destacar em momentos-chave onde contracena de forma mais intensa com McAvoy; para isto, muito contribuiu a caracterização feita da sua personagem através de uma mão cheia de flashbacks que vão salpicando a acção.

Split Shyamalan

Shyamalan é conhecido como o realizador dos twists, ou seja, pelos seus filmes onde somos levados a pensar num sentido e, abruptamente, é-nos feita uma revelação nos últimos segundos, que altera todo o sentido da história.

Não se pode dizer que Fragmentado é um filme de twist puro, como o são A Vila ou o Sexto Sentido; Split está mais na linha de O Acontecimento e de O Protegido. Aliás, segundo o próprio realizador, este será uma espécie de sequela de um dos seus filmes de princípio de século, que terá a conclusão num próximo filme que completa uma trilogia.

Se estiver com atenção, mesmo até ao próprio cartaz do filme, não é difícil de perceber o que é que Shyamalan está a “cozinhar”. A história também tem os seus easter eggs para apanhar, sobretudo quando começamos a compreender o que o protagonista é, na verdade.

Começou no jornalismo de tecnologias em 2005 e tem interesse especial por gadgets com ecrã táctil e praias selvagens do Alentejo. É editor do site Trendy e faz regularmente viagens pelo País em busca dos melhores spots para fazer surf. Pode falar com ele pelo e-mail [email protected].