Depois do MX-5, voltรกmos ao universo japonรชs da Mazda para, desta vez, experimentar um automรณvel mais prรกtico para o dia-a-dia, mas nem por isso mais consensual.
O Mazda MX-30 e-Skyactiv R-EV, aqui na versรฃo de equipamento Edition R e com a pintura Maroon Rouge 2-Tone, รฉ um daqueles automรณveis que se ama ou se detesta, aliรกs como jรก tรญnhamos sentido com o MX-5. Ou estamos com a mente aberta para experimentar um novo conceito ou bastarรก um test-drive para o riscarmos da nossa lista de opรงรตes.
ร claro que os propรณsitos sรฃo diferentes: ninguรฉm vai experimentar um roadster se, na verdade, quiser um citadino de cinco lugares; mas pode ser possรญvel que quem queira um modelo mais familiar passe as mรฃos pelo volante em pele do MX-30. Mas os problemas, para quem nรฃo estiver a pensar fazer viagens apenas com a companhia no banco do “pendura”, podem comeรงar logo na entrada para este SUV.
O nariz comeรงa a torcer logo quando for preciso levar amigos ou familiares: na verdade, este Mazda tem trรชs portas e meia, uma soluรงรฃo curiosa em que as portas traseiras sรฃo apenas acessรญveis depois de abrir as dianteiras, complicando a entrada para os lugares de trรกs. E se esta opรงรฃo tem o seu apelo estรฉtico, a verdade รฉ que compromete a funcionalidade. Uma coisa รฉ ter isto num desportivo como o RX-8, outra รฉ aplicรก-la a um modelo mais familiar.
Visualmente, este crossover coupรฉ foge ao convencional e รฉ inegรกvel que a sua silhueta รฉ das mais belas do mercado. As proporรงรตes sรฃo invulgares, algo de que gostamos – jรก o tรญnhamos referido no teste ao IONIQ 5, considerado por nรณs como o melhor automรณvel testado em 2024.
Assim, no MX-30, as linhas coesas e agressivas criam um conjunto harmonioso e com alguma dose de ADN desportivo. A frente alinha-se bem com a traseira, o que dรก ao modelo uma unidade visual pouco comum neste segmento โ algo que, diga-se, nรฃo รฉ fรกcil de conseguir. Muitas vezes vemos automรณveis com uma frente de antologia e, depois, uma traseira que parece ter sido criada numa noite de insรณnias (e vise-versa).
No interior, o contraste entre a estรฉtica apelativa e a funcionalidade volta a fazer-se notar. Os lugares traseiros sรฃo apertados, algo claustrofรณbicos, com pouco espaรงo para as pernas e sem janelas de abrir โ um detalhe apontado por todos os nossos amigos que viajaram atrรกs, durante o nosso perรญodo de testes.
Inexplicรกvel รฉ, tambรฉm, รฉ a presenรงa de botรตes acessรญveis a partir dos bancos traseiros para regular o banco do condutor, o que convida a brincadeiras que podem, ate, ser perigosas para quem vai a conduzir. A ausรชncia de entradas USB atrรกs tambรฉm รฉ uma falha difรญcil de justificar, jรก que atรฉ modelos de entrada de gama que temos conduzido tรชm esta opรงรฃo.
Nos lugares da frente, o cenรกrio melhora: os bancos em tecido e pele preta sรฃo confortรกveis e aquecidos, com o do condutor a ter ajustes elรฉctricos, incluindo apoio lombar. O apoio de cabeรงa exibe o logรณtipo da gama Edition R, um pormenor que reforรงa a sua identidade desportiva.
A consola central รฉ uma das mais originais que temos visto nos รบltimos tempos, mas nรฃo รฉ propriamente um exemplo de ergonomia. Hรก um bom espaรงo de arrumaรงรฃo sob o apoio de braรงos, que pode ser expandido com uma bandeja dupla, รบtil para o telemรณvel. O problema? Esta soluรงรฃo tapa os suportes para copos. E se optarmos por usar os suportes, entรฃo ficamos sem um sรญtio adequado para colocar o smartphone. Por quรช, Mazda?
Mais ร frente, a zona inferior da consola, com um espaรงo generoso de arrumaรงรฃo, รฉ de difรญcil acesso por causa da estrutura em ponte, que dificulta manobras simples como ligar um cabo. Contudo, aqui encontramos uma tomada de 220 V, bastante รบtil para carregar um portรกtil ou mesmo ligar pequenos electrodomรฉsticos. Hรก tambรฉm duas entradas USB-A, mas sentimos falta, pelo menos, de uma porta USB-C.
A ergonomia dos comandos mistura o analรณgico com o digital, com muitos botรตes fรญsicos โ algo que jรก tรญnhamos visto no MX-5. O botรฃo rotativo central continua a ser o ponto de acesso ao sistema de infoentretenimento, com atalhos bem posicionados. Jรก o selector de marcha tem uma operaรงรฃo pouco intuitiva: a posiรงรฃo ‘P’ nรฃo estรก na sequรชncia habitual, mas sim ao lado, e exige da nossa parte um movimento lateral especรญfico e, quanto a nรณs, dispensรกvel.
Mesmo acima, um ecrรฃ tรกctil de sete polegadas serve exclusivamente para interagir com o sistema de climatizaรงรฃo, o aquecimento do volante e dos bancos. Sentimos que esta รฉ uma utilizaรงรฃo limitada para um ecrรฃ desta dimensรฃo, agravada pelo facto de existirem botรตes fรญsicos que replicam as mesmas funรงรตes digitais.
O panorama nรฃo melhora muito no ecrรฃ principal do sistema de infoentretenimento: รฉ pequeno, demasiado horizontal e fica muito adiantado no tabelier. Ok, nรฃo รฉ tรกctil e, por isso nรฃo foi preciso colocรก-lo ร distรขncia de um braรงo, mas isto, em si, tambรฉm levanta problemas de usabilidade. Outra coisa de que nรฃo gostรกmos mesmo foi do facto de nรฃo haver Apple CarPlay ou Android Auto.
Sinceramente, seria mais estranho o MX-5 nรฃo ter esta capacidade que o MX-30. Esta falta obriga ร utilizaรงรฃo do sistema de navegaรงรฃo da Mazda, pouco prรกtico, especialmente quando temos de introduzir destinos atravรฉs do comando rotativo. E como nรฃo existe uma base adequada para o telemรณvel, temos de optar uma soluรงรฃo que jรก nรฃo se usa em carros actuais: um daqueles suportes que se tem de prender ร s grelhas de ventilaรงรฃo.
Melhor รฉ o painel de instrumento, que junta dois mostradores digitais com um velocรญmetro central, que pode ser configurado para mostrar diferentes informaรงรตes. Aqui, podemos ver, de forma clara, consumos, alertas ou simplesmente a velocidade, tudo com um aspecto muito limpo.
De um lado temos a autonomia combinada da bateria e do depรณsito de combustรญvel; do outro, a percentagem de carga e o nรญvel de regeneraรงรฃo. Esta duplicaรงรฃo de informaรงรฃo nรฃo nos faz confusรฃo e acaba por facilitar a leitura em conduรงรฃo, ou seja, em tempo real.
Na consola central, รฉ possรญvel escolher entre trรชs modos de conduรงรฃo: ‘EV’, ‘Normal’ (gestรฃo automรกtica) e ‘Charge’ โ este รบltimo recarrega a bateria durante a conduรงรฃo e revelou-se muito eficaz. Com uma conduรงรฃo moderada, conseguimos aumentar a carga em cerca de 30% em menos de dez minutos, o que equivale a aproximadamente 29 km de autonomia.
No capรญtulo das ajudas ร conduรงรฃo, a experiรชncia foi menos positiva. Os alertas parecem soar demasiado cedo, tanto em conduรงรฃo como nas manobras de estacionamento, e tornam-se irritantes. Felizmente, podem ser desligados atravรฉs de um botรฃo no tablier, uma soluรงรฃo que dรก sempre pontos ร s marcas que, desta forma, nos facilitam a vida.
Em termos de consumos, terminรกmos o nosso ensaio com uma mรฉdia de 6,1 l/100 km em percursos variados โ entre autoestrada, serra e estradas secundรกrias. No modo elรฉctrico, o fizemos 12,1 kWh/100 km. Conclusรฃo? Este MX-30 รฉ um hรญbrido plug-in que se estranha, mas que, depois se acaba por entranhar, embora nรฃo de uma forma global.
Ou seja, parece que por cada boa opรงรฃo, a Mazda tomou outras em sentido contrรกrio, principalmente ao nรญvel da ergonomia e da tecnologia, que nos deram algumas dores de cabeรงa. Resta dizer que a versรฃo que conduzimos, a e-Skyactiv R-EV AT 2WD estรก ร venda em Portugal por 46 574 euros.