Alcochete: quando nos mandarem para o Samouco, marquem-nos um quarto no Praia do Sal e tragam-nos Fogaças

A ideia que fica deste "novo mundo" que se abre em Alcochete é que se trata de uma escapadinha inesperada.

©TRENDY Report | Alcochete
©TRENDY Report

‘É como daqui ao Samouco’ – esta expressão, mais conhecida em Lisboa, serve para dizer que algo fica demasiado longe do sítio onde estamos. Mas, hoje em dia, há algo de doce no reino de Alcochete.

Tanto podia ser esta, como ‘nem paro no Samouco para meter água’, algo que se diz quando estamos determinados em fazer algo ou com pressa para chegar a algum lugar. Esta vila de Alcochete está no imaginário de alguns lisboetas e nem sempre pelas melhores razões.

A ideia que há é a de que é uma terra de ninguém, alagada e sem muitos motivos que valham atravessar a ponte Vasco da Gama para por os pés na areia que, quando a maré está vazia, entre Tejo adentro quase a perder de vista.

©TRENDY Report | Alcochete 1
©TRENDY Report | O Largo do Salineiro é um dos pontos de referência em Alcochete.

Mas, nos últimos anos, o interesse pela margem esquecida do rio que banha Lisboa parece ter crescido e até já motivou a aposta de um grupo hoteleiro que abriu, aqui, duas unidades: o grupo StayUpon (dono do Upon Lisboa e do Angels, em Lisboa), dono do Vila (o antigo hotel Alfoz) e do resort Praia do Sal.

Ambos ficam em frente ao rio, mas têm conceitos diferentes: o primeiro é uma unidade mais virada para estadas curtas, em que o principal atractivo é o rooftop onde, durante o Verão, há um programa de piscina e brunch. No Inverno, a água é aquecida e, claro, a zona fica “encapsulada” para resistir às intempéries.

No Praia do Sal, tudo é mais tranquilo: numa zona mais afastada do centro, há quartos estúdios, com uma cozinha básica e apartamentos que podem ser comprados e explorados a meias com o StayUpon. Spa, piscina interior, exterior e ginásio são as principais ofertas.

©TRENDY Report | Alcochete
©TRENDY Report | O Resort Praia do Sal tem quartos de hotel e habitações permanentes.

O resort tem ainda um restaurante italiano, o Omaggio, onde o chef Diogo Seixas cria pratos de conforto: «Só trabalhamos com massa fresca, é uma homenagem à comida della nonna [da avó], mas com ingredientes locais, como a salicórnia e as amêijoas».

Quando não estivermos no spa ou a aproveitar a piscina do Praia do Sal, vale a pena pegar numa bicicleta e fazer o caminho de terra batida até às Salinas do Samouco. Aqui, é possível fazer birdwatching e ter um contacto mais próximo com a biodiversidade do estuário do Tejo (no rio não há só tainhas, como dizemos por piada).

Geridas por uma fundação dedicada à proteção ambiental, estas salinas mantêm a tradição da extracção de sal sem máquinas e servem de habitat para inúmeras espécies de aves, como flamingos e pernilongos. A recomendação vai para uma visita guiada para aprender mais sobre a importância ecológica e histórica deste ecossistema.

©TRENDY Report | Alcochete
©TRENDY Report | O bird watching é uma das actividades disponíveis nas Salinas do Samouco.

Para quem preferir algo de mais radical, pode experimentar pegar numa prancha e numa asa, para dar algumas piruetas ao sabor do vento. O plano é marcar uma aula na escola Al Kite Surf: fica na Praia dos Moinhos, mesmo ao lado da que dá nome ao resort.

Um segundo dia desta escapadinha pode ser dedicado à história e à gastronomia. A Igreja Matriz de São João Batista é uma paragem obrigatória: construída no século XV, tem um estilo gótico com influências manuelinas. No interior, além da habitual arte sacra, destacam-se os painéis de azulejos.

Quem quiser aprofundar o conhecimento sobre o património religioso da vila, o Núcleo de Arte Sacra (onde também fica o posto de turismo) é uma visita recomendada. Este espaço museológico é a casa de uma colecção de peças litúrgicas, imagens religiosas e paramentos/bandeiras.

©TRENDY Report | Alcochete
©TRENDY Report | As Fogaças são o doce típico de Alcochete: podem ser compradas em vários tamanhos, na Padaria Popular.

E como qualquer passeio de bicicleta ou a pé pede, tem de haver paragens técnicas para restabelecer energias: um bom pequeno-almoço ou lanche não pode dispensar uma Fogaça, um bolo denso típico de Alcochete feito com mel, canela e ovos. O ponto de paragem é a Padaria Popular, mesmo ao lado da Igreja Matriz.

Pelo centro histórico da vila há vários restaurantes que têm como especialidade o peixe e o marisco, como o da Associação de Pescadores de Alcochete, o Cantinho do Ti Tonho, o Alcochetano e o Barrete Verde. Para jantar, a sugestão é o clássico Alfoz, com uma cozinha cuidada, tipicamente portuguesa, um serviço à antiga (no bom sentido) e uma localização privilegiada à beira-rio.

A ideia que fica deste “novo mundo” que se abre em Alcochete é que se trata de uma escapadinha inesperada. Às portas de Lisboa, a vila tem motivos de interesse suficiente para ficar um fim-de-semana, de preferência nos meses de Verão.


Nota: o TRENDY Report viajou até Alcochete a convite do grupo StayUpon.

Começou no jornalismo de tecnologias em 2005 e tem interesse especial por gadgets com ecrã táctil e praias selvagens do Alentejo. É editor do site Trendy e faz regularmente viagens pelo País em busca dos melhores spots para fazer surf. Pode falar com ele pelo e-mail [email protected].