Este EX30 foi apresentado como um «pequeno automóvel para grandes experiências»: a lama não o assusta, mas há uns grãos da areia na engrenagem.
A ambição não é curta: este SUV nasceu para provar que as «aventuras ao ar livre podem ser acessíveis a qualquer pessoa, em qualquer parte do mundo», como diz a marca sueca no seu site. Na verdade, este é o primeiro Cross Country 100% eléctrico da Volvo e acaba por nos lembrar do fim da histórica sigla ‘XC’ para este tipo de modelos.
O EX30 usa apenas a designação completa ‘Cross Country’, dado que a ‘XC’ passou a servir outros “interesses”: continua viva, mas como prefixo da gama SUV — XC40, XC60 e XC90 —, ficando as ‘Cross Country’ reservadas a modelos com carácter mais aventureiro, como este EX30. O novo nome junta o ‘E’ de eléctrico ao ‘X’ de crossover/SUV.

A marca criou o EX30 Cross Country com apenas uma motorização: Twin Motor Performance AWD, com 315 kW (428 cavalos) e uma autonomia combinada de 436 km. A bateria é de 69 kW/h, com velocidade máxima de carregamento de 158 kW, e a aceleração dos 0 aos 100 km/h faz-se em apenas 3,6 segundos. A velocidade máxima está, contudo, limitada a 180 km/h, o que se compreende para um modelo deste género.
Durante o ensaio, fizemos quase quatrocentos quilómetros, com um carregamento intermédio, e o consumo médio registado foi de 17,9 kW/h — um valor elevado para um modelo deste porte. Parte dessa diferença pode ser explicada pelo peso adicional: o Cross Country chega aos 1960 quilos, contra os 1850 da versão-base, e ainda acrescenta a grelha de tejadilho (75 kg, que a marca juntou à versão de ensaio), que aumenta a resistência aerodinâmica e gera ruídos a altas velocidades.
Na prática, a autonomia real deverá rondar os 300 km, sobretudo com uma condução mais descontraída. Os dois motores são os mesmos da versão Plus, embora com menos 14 km de autonomia, precisamente devido ao peso e à aerodinâmica. A aparência é assumidamente off-road: pneus Cooper Discovery ATT 235/55 R18, guarda-lamas reforçados, protecções em plástico preto nas cavas das rodas e pára-choques preparados para pedras e lama.
É um regresso ao espírito dos antigos V60 e V90 XC, com um visual mais musculado e robusto que fica muito bem ao bebé eléctrico da Volvo que conduzimos até Alcochete para participar na apresentação do programa de orniterapia do resort Praia do Sal.

Nesta versão, a carroçaria vinha em Cinza Vapour, descrita pela Volvo como um «cinzento neutro metálico com um toque de névoa, inspirado pelas casas de calcário escandinavas varridas pelo vento», um extra de 677 euros. A altura ao solo é também superior à do EX30 normal, com mais nove centímetros; e, uma vez que o amarelo inspirado nos líquenes suecos não está disponível, a cor que nos parece mais forte para este modelo é a Sand Dune, para entrar totalmente no espírito off-road.
Como é já tradição nas edições especiais da marca (vimos algo parecido na Black Edition do EC40), há um detalhe curioso: o painel frontal, em preto mate, exibe as coordenadas da montanha mais alta da Suécia, a Kebnekaise (67º54’0”N / 18º31”E), uma evocação das origens nórdicas da Volvo.
Já no interior, a marca foi mais conservadora. As opções de estofos são as mesmas do EX30 convencional — Textile e Nordico em azul (a da versão de teste) ou Wool Blend e Nordico em verde —, e não há elementos visuais que reforcem o espírito “todo-o-terreno”.

Detalhes inspirados em topografias ou texturas de terreno, por exemplo, teriam dado outro carácter ao habitáculo. O sistema de infoentretenimento, com ecrã de 12,3 polegadas e Google Automotive, também podia incluir funções de inclinação ou modos de condução como ‘Areia’, ‘Lama’ ou ‘Neve’, que lhe dariam uma identidade mais TT.
A única coisa que podemos ligar é a ‘Tração integral de alto desempenho’, que privilegia a performance em detrimento da autonomia e desliga automaticamente o One Pedal. Este modo tem apenas um nível de regeneração, algo que a Volvo podia ajustar em futuras revisões deste modelo; o que se mantém do modelo original é o ‘Controlo de descida’, que acaba por funcionar como um One Pedal mais forte.
No final do teste, houve uma coisa que ficou clara: por fora, o EX30 Cross Country impõe-se como SUV aventureiro; por dentro, mantém-se fiel ao minimalismo do modelo original e passa despercebido como o modelo convencional. O habitáculo continua a ter poucos botões físicos — apenas os dos vidros, colocados a meio da consola central — e uma navegação de menus algo complexa, ainda que com atalhos úteis no ecrã inicial.

O preço base é de 57 205 euros, mas com a grelha de tejadilho (554 euros) e as barras porta-carga Highline (359 euros), que nem sequer aparecem no configurador da marca, o total da versão ensaiada sobe para 58 118 euros — praticamente 60 mil euros para um SUV compacto eléctrico com ambições de TT. O preço a pagar para nos enchermos de lama em off-road, num SUV compacto e 100% eléctrico, é, assim, alto.
Mas há ainda outra coisa sobre a qual vale a pena reflectir: até que ponto faz sentido um Cross Country EV com cerca de 300 km de autonomia real? A ideia de explorar trilhos na Natureza levanta inevitavelmente o problema da recarga: onde é que podemos abastecer um EX30 CC longe da rede?
A Volvo poderia aproveitar este conceito para inovar com soluções como baterias auxiliares portáteis ou módulos solares acopláveis à grelha do tejadilho. No fim de contas, esta é a verdadeira ironia do EX30 Cross Country — um automóvel feito para ir mais longe, mas que precisa, inevitavelmente, de estar sempre perto de uma tomada.


















