Seal 6 DM-i: conduzimos o novo sedan híbrido da BYD (pela Serra da Estrela) que bateu os consumos anunciados pela própria marca

Tendo em conta a nossa experiência, deixamos uma pergunta legítima: será este o PHEV que menos consome actualmente à venda em Portugal?

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O que conseguimos com o Seal 6 DM-i foi exactamente o oposto do que é normal: este PHEV chegou ao fim de novecentos quilómetros de viagem com consumos recorde.

Com o Seal 6 DM-i, a BYD quer reforçar uma gama que já conta com o SUV Seal U e dar uma alternativa a quem não se identifica com este tipo de formato. Aqui, temos um sedan de perfil conservador (foge à linguagem mais atrevida do Seal original 100% eléctrico), pensado para quem valoriza a eficiência em vez do desempenho, com uma autonomia combinada que ultrapassa os 1400 km.

Este Seal assenta num motor a gasolina 1,5 de quatro cilindros associado a um motor eléctrico com 212 cv e 300 Nm de binário; já os 122 Nm do motor térmico mostram que temos aqui mais um apoio do que uma diversão. Na verdade, mesmo no modo ‘Sport’ e em HEV, este sedan mantém-se calmo e previsível, assumindo desde logo um posicionamento muito familiar.

A bateria Blade LFP de 19 kWh permite cerca de 105 km de autonomia eléctrica combinada e até 140 km em contexto urbano. Com consumos anunciados de 15,5 kWh/100 km e 4,8 l/100 km, fazia sentido guardar o depósito para grandes viagens. Foi isso que fizemos no teste, onde o levámos até à Serra da Estrela: eléctrico na Covilhã e Guarda, combustível na A23 e na A1.

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Durante este fim-de-semana prolongado, percebemos ainda melhor (mais que com o Seal U, em Fevereiro) que a tecnologia DM-i privilegia o motor eléctrico e que o térmico actua como gerador ou reforço, o que explica recuperações surpreendentemente eficazes. Em descidas longas acumulámos 10 a 12 km de autonomia só com condução passiva.

E é aqui que as coisas começam a surpreender: conseguimos chegar ao fim desta viagem, que nos levou quase trinta horas de condução efectiva e novecentos quilómetros de todo o tipo de estradas (incluindo de terra batida), com consumos (muito) abaixo dos anunciados pela marca: foram apenas 2,7 kWh/100 km e 4,4 l/100 km.

O Seal saiu de Lisboa com metade do depósito (619 quilómetros certos) e “recebeu” apenas mais quarenta euros de combustível na Covilhã, onde aproveitámos os 1,609 euros/litro da Plenoil para voltar a fazer o indicador passar de mais de metade: 24,86 litros levaram-nos até aos 858 km de autonomia, apenas com combustível.

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Numa viagem com velocidade média de 44 km/h e onde acabámos por gastar 37,5 litros de gasolina, estes números só podem impressionar; assim, deixamos uma pergunta legítima: será este o PHEV que menos consome actualmente à venda em Portugal?

Da auto-estrada às sinuosas e estreitas vias da Serra da Estrela, o comportamento em estrada confirma o carácter do Seal 6. No primeiro ambiente, a estabilidade garante viagens tranquilas, embora se pedisse um pouco mais de vivacidade ao acelerador.

No segundo, o comprimento de 4,8 metros faz-se sentir e este sedan mostra-se menos à vontade; conduzimo-lo a ritmos muito cuidadosos na subida da Covilhã para Manteigas. Já na descida para a Guarda, com estradas mais amplas, sentimo-lo mais solto e confiante.

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Além dos consumos e do comportamento dinâmico, outra das vantagens de conduzir um automóvel em teste por mais de novecentos quilómetros é perceber muito bem como é que é a “vida” no habitáculo. Aqui, temos uma receita conhecida da marca chinesa: muito equipamento, com destaque para os bancos dianteiros eléctricos com aquecimento e ventilação, bastante confortáveis em viagens longas.

Nas nossas primeiras impressões (embora com a versão carrinha do Seal 6, a Touring) tínhamos considerado que poderiam ser mais rígidos, mas a utilização prolongada desmentiu essa ideia. Contudo, a abordagem da BYD aos alertas ADAS acabou por confirmar os nossos receios: os alertas sonoros do sistema de atenção ao condutor e dos ADAS tornaram-se uma tortura.

Sobretudo o primeiro, demasiado sensível, que entra em acção assim que desviamos, ainda que por microsegundos, o olhar da estrada; tendo em conta que o sistema de infoentretenimento (ecrã táctil de 12,8 polegadas) é dos mais densos e labirínticos, a forma como a BYD é tão ciosa da segurança do condutor não deixa de ser uma ironia…

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A isto junta-se uma crítica que temos sempre feito aos BYD de gama superior: o painel de instrumentos (8,8 polegadas) tem excesso de ícones, texto minúsculo e informação em demasia. A BYD mantém aqui um dos seus piores problemas estruturais e assume opções que não nos convencem.

Por exemplo, abandonou o ecrã rotativo (é fixo, na horizontal) e a alavanca de mudanças na consola: há agora uma manete atrás do volante, com a gestão das luzes remetida para o ecrã, o que faz com que ligar faróis de nevoeiro deixe de ser gesto imediato: é preciso ir ao menu da iluminação, entrar na secção ‘Exterior’ e tocar na opção respectiva.

Já a grande consola central inclui carregamento Qi refrigerado a 50 W e outro espaço para o smartphone, mas o formato de ponte dificulta o acesso às entradas USB-C, algo que já tínhamos criticado no texto de primeiras impressões. O mesmo acontece com o comando físico dos modos de condução (‘Eco’, ‘Normal’, ‘Sport’ e ‘Snow’): é pequeno e pouco intuitivo. Notámos ainda muitas falhas na retoma da ligação sem fios do CarPlay e ficámos muitas vezes impossibilitados de mudar de estação de rádio através do volante: simplesmente deixou de funcionar.

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Este sedan PHEV começa nos 45 mil euros, com tudo incluído (a cor é o único extra – o branco é de série e as restantes custam 1300 euros) e, para quem se quer afastar do cliché SUV, o BYD Seal 6 DM-i pode ser a grande escolha actual. As irritações tecnológicas são significativas, mas este sedan vai além daquilo que a marca promete e do que, no fundo, nos pesa na carteira: consumos baixos, o que se traduz em gastar menos na bomba de gasolina e nos postos eléctricos.

Começou no jornalismo de tecnologias em 2005 e tem interesse especial por gadgets com ecrã táctil e praias selvagens do Alentejo. É editor do site Trendy e faz regularmente viagens pelo País em busca dos melhores spots para fazer surf. Pode falar com ele pelo e-mail [email protected].