O pairing de diversos vinhos com vários tipos de comida, e em diferentes momentos de uma refeição é uma treta. A Ervideira comemorou dez anos com um almoço onde foi bebido com entradas e sobremesas.
Todos os anos tem sido assim: a 1 de Abril, o Ervideira Invisível chega às lojas. Este foi o primeiro vinho branco em Portugal feito com uvas que, normalmente, servem para fazer vinho tinto, neste caso Aragonez.
«Em 2007 trouxemos para Portugal vários blancs de noir, produzidos na Suíça, Alemanha, Luxemburgo e França, para uma prova interna. Dos 26 vinhos provados, poucos (ou praticamente nenhuns) foram do agrado. Nasceu assim a nossa vontade em criar um blanc de noir», conta Duarte Leal da Costa, director executivo da Ervideira.
Durante dois anos, a equipa da Ervideira esteve a afinar a produção deste vinho e, em 2009, chegava ao mercado o Invisível. Em 2019, dez anos depois, foram vendidas «quinhentas mil garrafas»
Actualmente, o Invisível está certificado como Vinho Regional Alentejano Branco, mas o processo teve, ao início, alguns problemas: a Ervideira não sabia se o devia certificar «como um tinto (pois era feito a partir de uvas tintas) ou se como um branco (pela sua cor)».
O caso foi apresentado à Comissão Vitivinícola do Alentejo (CVRA) e o vinho foi aprovado como DOC. Contudo, a «CVRA voltou atrás e rejeitou esta certificação uma vez que se tratava de um monocasta», lembra Duarte Leal da Costa.
Depois de ultrapassada estq questão e de a Ervideira ter escolhido uma garrafa escura tipo Borgonha para apresentar o vinho (para o proteger da luz), havia uma última «barreira» para ultrapassar: a do nome.
Duarte Leal da Costa conta a história: «A equipa estava à mesa a provar o vinho com um Cozido à Portuguesa e o nosso colega Pedro Roma começou a filosofar, a dizer que apesar de não ter cor, casaca bem com o Cozido pelo força que tinha, que por isso era um vinho invisível».
Estava encontrada a resposta para o último problema de Duarte Leal da Costa: «Mal ouvi aquilo, dei um salto que fez o Pedro assustar-se e perguntar-me se tinha dito algum disparate. Eu disse que na verdade ele tinha acabado de dizer o nome do vinho».
Para comemorar os dez anos do vinho Invisível (que, em 2019 tem uma produção de 75 mil garrafas), a Ervideira ofereceu um almoço aos jornalistas no restaurante Solar dos Presuntos, em Lisboa.
Aqui, estava montado um desafio, o de servir o vinho durante todos os momentos da refeição: várias entradas salgadas com queijos, presunto, marisco e fritos; pratos principais com borrego assado no forno e filetes de peixe galo com açorda; e uma sobremesa pudim Abade de Priscos.
A única diferença foi a temperatura associada ao pairing destes momentos, que começou baixa, nos 4 a 5 graus e depois foi “aquecendo” até chegar aos 16/17 graus.
Manter o mesmo vinho durante todos os pratos, passando pela carne, pelo peixe e até por uma sobremesa muito doce é, como é de esperar, muito difícil – basta ver que há vários restaurantes a oferecer pairings de quase uma dezena de vinhos para acompanhar um menu, uma realidade que a Ervideira quis desmistificar com este almoço.
Não somos, nem de perto, nem de longe, peritos em vinho, mas a verdade é que não sentimos necessidade de provar outras referências durante um almoço com pratos mais consistentes (como o borrego) ou mais leves (como os filetes de peixe galo). Ou seja, a “regra” de ‘tintos para carnes’ e ‘brancos para peixes’ foi, aqui, quebrada e bem.
O Ervideira Invisível 2019 já está nas lojas da especialidade e em hipermercados seleccionados com um preço que ronda os dez euros.