Com inspiraรงรฃo nas batalhas sonoras jamaicanas, o juiz final do Red Bull Music Culture Clash รฉ um sonรณmetro, colocado no centro do Coliseu de Lisboa. ร volta, o pรบblico divide atenรงรตes entre quatro palcos, ocupado por quatro crews. No final, hรก apenas um vencedor e muitas surpresas.
Depois de uma bem-sucedida ediรงรฃo, em 2016, ontem foi noite de regresso do Red Bull Music Culture Clash a Lisboa, com o tรญtulo a ser dado ร crew PAUS e Pedras – nรฃo em formato de cinturรฃo, mas em disco, mesmo.
A apresentaรงรฃo esteve a cargo de Carlรฃo e Alex DโAlva Teixeira โ que repetiram a dose no Culture Clash, ainda que com papรฉis diferentes, no caso de Carlรฃo. Em 2016, o eterno Pac-Man esteve na crew Cloud Atlas, liderada por Branko – equipa que foi a primeira vencedora da ediรงรฃo lisboeta da batalha sonora. Agora, era tempo de mudar a perspectiva, ainda que com a sabedoria de quem jรก esteve no lado dos ‘gladiadores’.
Nesta batalha, em que vale quase tudo โ desde โpicarโ os adversรกrios com letras alteradas, fazer transportar objectos pelo pรบblico – hรก, ainda assim, regras a cumprir. Hรก que obedecer aos temas dos vรกrios rounds e nรฃo repetir malhas.
As crews jรก eram conhecidas e mostravam misturas, no mรญnimo, surpreendentes: Capicua e a Guerrilha cor-de-rosa, composta por M7, Eva Rap Diva, Blaya, Ana Bacalhau, Marta Ren e DJ D-One, enfrentaram PAUS e Pedras (PAUS, DJ Glue e Mike El Nite, Silk e Holly Hood a cargo de liderar a frente de palco), Richie Campbell apresenta Bridgetown (DJ Dadda, Ben Miranda, Plutรณnio, Dengaz, General Gogo, Mishlawi e Luรญs Franco Bastos) e ainda Ultramar, com Rui Pregal da Cunha, vocalista dos Herรณis do Mar, acompanhado pelos Capitรฃo Fausto, Memรณria de Peixe e Throes + the Shine.
Round one, fight
O primeiro round pode nรฃo valer pontos, mas mostra bem a quem nรฃo conhece aquilo que se podia esperar da noite, alรฉm de dar oportunidade aos membros da crew de darem um cheirinho daquilo que รฉ a sua interpretaรงรฃo da caminhada para a vitรณria.
Para a Guerrilha Cor-de-Rosa, as primeiras a entrar em palco, o nome faz jus ร indumentรกria: de rosto tapado com mรกscaras cor-de-rosa, lantejoulas ร mistura e a palavra em dia, a equipa feminina nรฃo estava para brincadeiras. Se รฉ para combater, รฉ para entrar logo a matar, com um clรกssico: Hip Hop, de Boss AC, que traria bons resultados ao Coliseu.
Para os PAUS e Pedras, a mistura entre Silk, Mike El Nite e Holly Hood resulta bem. Silk viria a marcar a noite, nรฃo sรณ pelas mรบltiplas mudanรงas de guarda-roupa: se ao inรญcio assumiu a indumentรกria de fauno, mais tarde passaria por domador de circo ou ainda um marinheiro. Nota relevante: ver PAUS a acompanhar uma imponente versรฃo de It’s A Man’s Man’s Man’s World, de James Brown, ia marcar a noite.
Na crew Bridgetown, homenagearam-se os clรกssicos do reggae, com muitos dos trunfos a irem beber ao reportรณrio de lendas como Bob Marley. Uma cartada sempre eficaz, jรก que nรฃo hรก quem nรฃo saiba acompanhar clรกssicos como Don’t Worry, Be Happy, por exemplo. Mais tarde, a crew de Richie Campbell teria ainda tempo para um mini stand-up de Luรญs Franco Bastos ou ainda uma gravaรงรฃo deixa por Toy ou pelos Xutos e Pontapรฉs.
A saber bem que o primeiro round nรฃo valia pontos, a equipa Ultramar aproveitou para entrar em teatralidades e deixar a mรบsica de lado. Sempre liderados por Rui Pregal da Cunha, a crew viria, mais tarde, a recorrer ao clรกssicos dos Herรณis do Mar. Paixรฃo, Alegria… Talvez atรฉ em demasia.
As surpresas da noite
A Guerrilha Cor-de-Rosa soube mexer com os sons virais que andรกmos a ouvir nos รบltimos anos: Beijinho no Ombro, com direito a uma apariรงรฃo da drag queen Rebecca Bunny, ou atรฉ a uma Que Tiro foi Esse – que atire a primeira pedra quem ainda nรฃo viu as interpretaรงรตes virais desse vรญdeo… Alรฉm disso, ainda sacariam da manga Camanรฉ ou Bruno Nogueira a interpretar Taras e Manias, de Marco Paulo.
Bailarinas clรกssicas ou cantoras lรญricas em Ultramar, Gson dos Wet Bed Gang ou Mayra Andrade para Bridgetown ou Carla Moreira a acompanhar PAUS e Pedras. ร necessรกria atenรงรฃo para conseguir acompanhar todos os convidados especiais que marcaram cada um dos 15 minutos de round final das crews.
No final da noite, a vitรณria esteve renhida entre Bridgetown e PAUS e Pedras. E quando se diz renhida, fala-se mesmo numa diferenรงa muito reduzida, de 0,1 decibรฉis, que acabaria por favorecer PAUS e Pedras.
Fotografias cedidas pela organizaรงรฃo.