Fortemente centrado na história de um tio que se vê obrigado a voltar à cidade-natal para cuidar do sobrinho adolescente após a morte do seu irmão, Manchester By The Sea é um retrato de como nós, humanos, somos tão bons a evitar falar sobre aquilo que nos mói.
De vez em quando, dá-se o caso de um filme com características que poderiam, à primeira vista, ser banais, ter a capacidade de surpreender. Manchester By The Sea é um drama, ponto assente, com um enredo que pode ser explicado em apenas uma frase.
Mas num filme que está tão ligado ao mar – mesmo no título – há bem mais do que aquilo que é visível à superfície. Com Manchester-by-the-Sea, Massachusetts (EUA), como pano de fundo, este é um filme que se alimenta de flashbacks, mas que não nos deixa ficar à deriva com buracos no argumento. É um filme sobre a dor e as várias formas de a encarar – ou não.
Comecemos pelo elenco: Casey Affleck não é, pelo menos automaticamente, um nome que associemos à primeira liga do mundo cinematográfico. Sim, conhecemos mais o irmão Ben, é verdade, mas há que não esquecer que Casey Affleck conta com uma nomeação a um Óscar de Melhor Actor Secundário, em 2007, no filme The Assassination of Jesse James by the Coward Robert Ford.
O desempenho de Casey em Manchester By The Sea é um dos pontos mais fortes do filme – e é a prova de que este Affleck está pronto para o upgrade na carreira que merece. Tanto que no festival de Cinema de Palm Springs, já este ano, viu o desempenho em Manchester by the Sea ser reconhecido com um prémio.
No discurso, Casey aproveitou mesmo para dizer que antes «nunca era convidado para as festas grandes» do género. Com o papel de Lee Chandler, um porteiro de Boston apático, que em alguns casos prefere a violência para ter de evitar as suas próprias emoções, as probabilidades de passar a figurar nas grandes entregas de prémios é cada vez mais forte.
Mas nem só de lágrimas e revolta vive este Manchester By The Sea. Aliás, é também no contraste e quebra de ideias feitas que há ouro e um toque especial. Partindo da premissa de que há um adolescente de dezasseis anos que fica órfão, o mais expectável seriam cenas de revolta contra o tio (nomeado como seu único tutor), gritos, choradeira e rebeldia.
Não há muito disso: Lucas Hedges interpreta com mestria um Patrick Chandler que é a única réstia de humor, e a até de alguma ironia, no filme. Pragmático e desenrascado, para mostrar que os adolescentes nem sempre precisam de ser os dramáticos dos filmes do género.
A completar, Michelle Williams interpreta a ex-mulher de Lee, com direito a poucos minutos em cena. Ainda assim, não é isso que impede a actriz de nos presentear com minutos de emoção pura e dura – e sem floreados.
Com o argumento e realização a cargo de Kenneth Lonergan, a estreia de Manchester By The Sea decorreu no Festival de Cinema de Sundance. No entanto, o enredo forte fez com que fosse dado o salto do circuito indie para um público mais vasto.
Curiosamente, este filme, que é distribuído pela Amazon Studios, é um dos primeiros nesta situação a conseguir gerar algum buzz junto da crítica e dos responsáveis pela atribuição de prémios cinematográficos. Talvez porque Manchester By The Sea é uma soma de factores simples, mas que aliado a interpretações fortes, garante um panorama geral bem interessante.
Recordamos que, em Outubro, Manchester By The Sea já estava na nossa lista de filmes que tinham potencial para figurar na lista de nomeados aos Óscares.
Por enquanto, ainda não foram revelados os favoritos da Academia, mas Manchester By The Sea já conta com cinco nomeações para os Globos de Ouro – Melhor Filme na Categoria de Drama, Melhor Actor Principal para Casey Affleck, Melhor Actriz Secundária para Michelle Williams e Melhor Realização/Melhor Argumento para Kenneth Lonergan.