Rie Kudan, uma escritora de 33 anos que ganhou um prémio literário no Japão, o Akutagawa, assumiu ter recorrido ao ChatGPT para escrever o livro vencedor.
Tokyo Sympathy Tower é um romance de futurista, de ficção científica, cuja história se desenrola à volta de uma prisão que funciona com inteligência artificial. Segundo o jornal The Japan Times, os juízes do Prémio Akutagawa (que pode ser comparado ao Prémio Saramago, em Portugal) avaliaram a obra com nota máxima e sublinharam o facto de «quase não ter falhas».
Contudo, durante o discurso de Rie Kudan, na sequência da atribuição deste prémio, a escritora assumiu ter usado a plataforma da OpenAI para criar a história: «Foi um romance escrito com ajuda do ChatGPT, cerca de 5% do texto». Kudan disse ainda que quer continuar a usar IA generativa para «aprimorar a sua criatividade».
O pior veio depois: Rie Kudan foi duramente criticada nas redes sociais por usar IA na escrita do livro, com várias pessoas a pôr em causa o mérito da vitória. A questão é a mesma de sempre: até que ponto é legítimo recorrer a este tipo de plataformas para criar conteúdo original.
Por exemplo, em Agosto de 2023, um tribunal dos EUA recusa proteger uma obra de IA com direitos de autor, com a justificação de ter de «haver mão humana». Na altura, a conclusão foi a de que o autor da obra teria de ser o programa e não o artista, ainda que, para ser criada uma imagem com IA, tem de haver instruções de um humano.
A questão é saber se a geração de uma história (ou parte dela) com recurso a IA se pode considerar como tendo autoria da pessoa que dá a instrução para o que quer ver criado (o promtp que, em muitos casos, tem de ser muito bem detalhado) ou se acaba por ser apenas o resultado do “treino” dado à plataforma, a partir de várias fontes.
Isto acaba por bater, por exemplo, no mais recente caso judicial a envolver empresas donas de plataformas com esta tecnologia: a OpenAI e a Microsoft foram processadas pelo New York Times por usarem artigos seus no “treino” da inteligência artificial.
A verdade é que o recurso a IA para gerar texto literário, científico, académico e até noticioso se deve acentuar nos próximos anos: em 2023, houve uma edição do jornal i totalmente feita com recurso a IA e, na China, um professor da Universidade de Tsinghua University ganhou um prémio com um livro que seguiu o mesmo caminho, Land of Memories.