Existem estudos em que pessoas revelaram melhor função intestinal quando consumiram mais fibra. No entanto, outro grupo que consumiu 0% de fibra foi o que teve melhor regularidade de movimentos intestinais efectivos.
Prisão de ventre, diarreia e disbiose intestinal são problemas normalmente metabólicos e multifactoriais. Ou seja, um mau funcionamento hepático, renal, supra-renal, tiroidal ou linfático, pode criar problemas de trato intestinal.
A isto, junta-se a má alimentação, comer de três em três horas (uma digestão começa antes de acabar a primeira) hiperinsulinemia, hiperglicemia, consumo exagerado em quantidade e frequência de produtos ultra-processados, demasiado ómega 6 e ácido araquidónico, consumo de hidratos de carbono juntamente com gorduras (Randal cycle), etc. Isto não é apenas uma questão de mais fibra ou menos fibra, pois seria uma visão muito redutora do problema e também da solução.
O que nos diz a História
Os humanos estão, neste momento, preparados biologicamente para serem omnívoros. Há pelo menos 2,5 milhões de anos que a alimentação humana é basicamente carnívora, com momentos de consumo de frutas, alguns tubérculos e vegetais.
Existem milhares de vegetais, quase todos tóxicos para os humanos – no entanto, contam-se pelos dedos, os animais que são tóxicos – as plantas têm defesas químicas, em vez de garras ou mandíbulas. Estudos de antropologia e paleontologia indicam grandes concentrações de proteína animal nos Homo Sapiens e apenas valores residuais de matéria vegetal.
Ao longo da evolução, e através do consumo maioritariamente de carne e ovos, os humanos que outrora consumiram mais matéria vegetal perderam a capacidade de processar grandes quantidades de fibra (é por isso que não sintetizamos fibra).
O maior indício antropológico disso é termos um apêndice residual (deixámos de precisar dele); já um gorila, por exemplo, tem um apêndice enorme e alta capacidade de digerir fibras vegetais, mas tem também de consumir as próprias fezes para obter vitamina B12.
Mecânica: biologia e anatomofisiologia do intestino
O consumo de fibras e uma má alimentação pode ser a causa do mau funcionamento dos músculos intestinais, além da “gordurofobia” dos últimos tempos. Quanto maior o bolo intestinal (muita fibra), maior a dilatação das paredes do intestino e, consequentemente, a flacidez e a redução da amplitude de contracção dos músculos que realizam a excreção, a longo prazo
A solução aparente passaria por aumentar a fibra para fazer crescer o volume do bolo intestinal e, assim, permitir aos músculos cumprir a sua função, mesmo com a amplitude de contracção comprometida. Contudo, a longo prazo, isto vai piorar a situação e fazer dilatar as paredes do intestino para uma posição ainda menos natural, fisiologicamente.
Solução focada na causa do problema
A recomendação passa por uma dieta de eliminação (apenas produtos de alta biodisponibilidade, bom trato intestinal e densidade nutricional), com a saída de todas as fibras na dieta.
Também se considera a introdução de jejum intermitente (reduzir a solicitação de trabalho intestinal de forma a permitir a recuperação dos tecidos musculares) e o aumento das gorduras naturais (melhoria de função linfática e lubrificação das fezes).
É ainda indicada a suplementação em doses terapêuticas de glutamina (10 gr por toma, com duas ou três tomas diárias), suplementação com citrato de magnésio (facilitador de função e regulação intestinal) e, em alguns casos, prescrição de probióticos, pré-bióticos, simbióticos e enzimas como a lipase e a amilase.
A seu tempo, o diâmetro intestinal volta ao normal, a amplitude e força dos músculos da parede intestinal recupera e a função intestinal volta para onde sempre devia ter estado: sem grandes quantidades e frequência de fibras vegetais.
O fenómeno ‘oxalate dumping’
Existem estudos em que pessoas (aparentemente saudáveis) revelaram melhor função intestinal quando consumiram mais fibra. No entanto, outro grupo que consumiu 0% de fibra foi o que teve melhor regularidade de movimentos intestinais efectivos. Quanto maior o bolo intestinal, menos biodisponibilidade tem o alimento.
Há, no entanto, há observações que nos mostram que, depois de remover completamente a fibra a indivíduos que têm dietas altas em vegetais e hidratos de carbono, acontecem diarreias durante um determinado período – isto é um fenómeno fisiológico a que se chama, de forma comum, ‘oxalate dumping’.
Oxalatos são fitoquímicos tóxicos existentes nos crucíferos e espinafres (juntamente com lectinas e fitatos também eles tóxicos e nocivos para o fígado e intestino); ao retirar estes alimentos, e se houver concentração destes fitoquímicos, o corpo começa a excretar, criando diarreias (desintoxicação) por melhoria da função empática e renal.
Fundamentar as abordagens
Esta é a outra forma de abordar o assunto: cada profissional, em consciência, deve decidir qual das abordagens faz mais sentido para si. A que exponho aqui não é muito divulgada, porque entra em conflito com o mito das fibras e com a indústria alimentar que influencia, de alguma maneira, o que é publicado).
Espero que, no mínimo, que achem interessante esta abordagem diferente (nunca tenho uma opinião que não consiga fundamentar), caso contrário não a dou e vou estudar até perceber se a minha “teoria” tem, ou não, fundamento e sustentabilidade biológica.
Este artigo não tem o intuito de aconselhar ou indicar qualquer abordagem nutricional, deve sempre aconselhar-se junto do seu médico, ou nutricionista.