A obra que ocupou trinta anos da carreira de Scorsese chega finalmente ao cinema, com uma histĂłria tocante, mas que perde pelo casting pobre.
SilĂȘncio. Normalmente Ă© o que quem reza a Deus recebe em troca. No filme, adaptado do livro com o mesmo nome de ShĆ«saku EndĆ, isto nĂŁo Ă© diferente: na viagem que o Padre Rodrigues faz ao JapĂŁo para resgatar o Padre Ferreira, tudo se fecha, tudo se cala.
Para perceber este SilĂȘncio, Ă© preciso contextualizar a histĂłria. No sĂ©c. XVII, vĂĄrios padres portugueses jesuĂtas viajam para o JapĂŁo para espalhar o catolicismo. Como Ă© Ăłbvio, os senhores feudais nĂŁo estĂŁo particularmente interessados em que o seu povo comece a rezar a um deus diferente.
Assim, começam a perseguir os padres e as populaçÔes convertidas, que tĂȘm de praticar o catolicismo de forma secreta e longe dos olhares dos senhores feudais. Ă numa perseguição destas em que o Padre Ferreira (Liam Neeson) Ă© capturado.
As notĂcias chegam a Portugal e um dos lĂderes dos JesuĂtas, o Padre Valignano, chama o Kylo Ren e o Homem-Aranha para descobrirem o paradeiro do Qui-Gon Jin, naquilo que se pode entender como uma espĂ©cie de task force catĂłlica.
Chegados ao JapĂŁo, começam imediatamente as dificuldades: o Padre Rodrigues (Andrew Garfield) e o Padre Garupe (Adam Driver) começam logo a sentir a opressĂŁo dos japoneses, e este Ășltimo chaga mesmo a ser capturado.
O filme, excelente na fotografia e na forma como mostra ao espectador a sucessão de acontecimentos, entra depois num novo ciclo. Aqui, pelos olhos de Rodrigues, começamos a ver as atrocidades cometidas contra os novos-cristãos japoneses, entre as quais, uma cena de crucificação a fazer lembrar a intensidade de A Paixão de Cristo.
Enquanto Ă© perseguido, e vĂȘ os seguidores de Cristo a serem perseguidos, Rodrigues lĂĄ vai rezando a Deus para que tudo acabe bem. Rodrigues pede, pede, mas Deus nĂŁo ouve. Ă silĂȘncio que recebe em troca ao longo da vida.
A fé começa a ser questionada, o peso da cristandade abate-se sobre os ombros de Garfield, mas o actor de 33 anos (curiosamente, a idade de Cristo quando morreu), não aguenta com o empreendimento.
Tal como Adam Driver, que estĂĄ muito colado a Kylo Ren (Star Wars – The Force Awakens), Garfield (que merece aplausos por Hacksaw Ridge), nĂŁo foi feito para levar um filme destes “Ă s costas”.
A sua baby face e fragilidade funcionam melhor noutro tipo de registo que numa grande obra de Scorsese e isso pode fazer com que falte um pontinha de credibilidade Ă sua personagem: um homem enviado ao JapĂŁo para fazer o trabalho de Deus. Que, claro, nunca consegue.
Veja o vĂdeo no canal de YouTube do TRENDY.