Ridículo. É a primeira palavra que me vem à cabeça para descrever Suicide Squad. É um filme tão desprovido de alma e história que faz parecer Sharknado 4 uma coisa até bem feitinha.
O problema dos filmes de super-heróis é sempre o mesmo: o realizador e os argumentistas têm de pegar em bonecos que nasceram em livros aos quadradinhos e torná-los em personagens de carne e osso que funcionem bem no grande ecrã.
Há uns anos até nem ligávamos muito a isto: queríamos ver belas fatiotas a esvoaçar de um lado para o outro, super-poderes em barda, o velho clássico ‘bem vs. mal’ e personagens tão ou melhor caracterizadas como nos livros.
Só que, há 11 anos, houve um senhor chamado Christopher Nolan que decidiu ostracizar esta fórmula e fazer um filme mais humanizado, com mais carga negra e o mais próximo possível da realidade (se posso dizer assim, porque quando falamos em filmes de super-heróis, realidade é coisa que, na verdade não existe).
Batman Begins (2005), bem como as suas duas sequelas (e, meu deus, Dark Knight com o melhor Joker de sempre) são a bitola por onde temos de nos reger para avaliar todos os filmes de super-heróis que vão aparecendo.
O universo criado por Nolan, como personagens que, realmente, poderiam existir perfeitamente no nosso Mundo (Catwoman é uma ladra muito bem treinada, não foi mordida por gatos; Bane não é um monstro alimentado por fluidos tóxicos) é cativante. A proximidade com cada um de nós leva-nos a pensar que, na verdade, era perfeitamente plausível haver gente assim, com aquelas personalidades desviantes, dramas e conflitos interiores.
Ninguém conseguiu fazer um filme de super-heróis tão bem como Nolan e a sua trilogia Batman. É por isso que 90% das adaptações feitas ao cinema depois disso são risíveis. Nos 10% que escapam à mediocridade estão, por exemplo, os fantásticos Watchmen (Zack Snyder – 2009), Guardians of the Galaxy (James Gunn – 2014) ou Deadpool (Tim Miller – 2016). O universo Marvel, com os Vingadores, Iron Man ou Capitão América, que também convenceram a crítica podem, mesmo de fininho, entrar neste lote.
E se a Marvel parece mesmo ter encontrado uma leve gota da fórmula de sucesso necessária para dar vida aos seus heróis no cinema, a DC está a seguir pelo túnel errado. E nada mais prova isso que este sofrível Suicide Squad, onde David Ayer pegou nos ingredientes, os levou à misturadora e colocou tudo num copo de batido, com direito a sombrinha, para acompanhar um balde de pipocas.
O que falta a Suicide Squad tem a trilogia Batman de Nolan para dar e vender e ainda doar por caridade. Para já o conceito do filme não faz qualquer sentido: reunir um conjunto de vilões para ocuparem o lugar do Super-Homem, que morreu no filme Batman vs. Superman.
Aliás, muitos nem parecem ser vilões: El Diablo diz que quer viver uma vida de paz, e Deadshot é um hitman com valores. Aliás, se há actor que carrega o filme às costas é Will Smith (não foi à toa que a Warner o tornou no mais bem pago de Suicide Squad).
O filme, apesar de ser mau em muitos aspectos, tem cenas em que o timming das piadas e os toques de humor encaixam bem no desenrolar da trama. Há apontamentos deliciosos, como um protagonizado por Harley Quinn em frente a uma montra de uma loja de roupa.
Os gags acabam, quase todos, por vir desta mesma fonte, a namorada de Joker. E por falar em Joker, esqueçam o grande papel de Jared Leto: aquilo que viram nos trailers é um logro. A personagem aparece a espaços, tem influência zero durante todo o filme e apenas no final aparece como verdadeiro protagonista de uma cena.
O problema de Suicide Squad está mesmo na origem do conceito, e realmente não me interessa se a história já venha dos anos 60 ou tenha fãs em todo o mundo. É completamente irreal juntar um grupo de vilões para combater aquilo que Viola Davis diz, pela boca da sua personagem Amanda Weller, ser a Terceira Guerra Mundial.
Veja o vídeo no canal de YouTube do TRENDY.
E contra quem é que esta Task Force X (o nome Suicide Squad é dito uma única vez no filme inteiro, pela personagem de Will Smith) tem de lutar? Pois, não se sabe, pois quando Amanda Weller decide juntar os maiores criminosos do Mundo DC para fazer frente a essa ameaça, ficamos com a ideias de que são terroristas «com bombas e espingardas AK», como diz a personagem de Joel Kinnaman, Rick Flag.
Ainda assim, depois de Will Smith, quem acaba por agarrar a atenção do espectador (masculino, claro) é Margot Robbie e a sua tresloucada Harley Quinn, que se passeia pelo filme como estivesse num desfile de moda da Victoria’s Secret. De resto, tudo é mais um menos um deserto de ideias, de falta de linha condutora e que, por vezes, faz lembrar o remake de Ghostbusters feito este ano e que estreou há duas semanas.
Sente-se que o filme atalha por caminhos para despachar a acção; e com isso, baralha quem está a ver. Há muitos rabos de palha ao longo da acção e a parte onde o grande vilão é derrotado soa a embuste: será que um semi-deus pode mesmo ser morto daquela forma?
Os trailers que fui vendo ao longo dos últimos meses deixavam antever um dos melhores filmes de super-heróis dos últimos tempos, por isso não é de admirar que durante duas horas e meia tenha levado várias vezes a mão à cara, ficado a olhar incrédulo para a forma como a acção decorria e pensar que, afinal, ter comprado um daqueles bilhetes que inclui jantar nem foi assim tão mau.
Ao menos, o bife de perú grelhado com salada césar do Prego Gourmet estava uma delícia.