Os restaurantes de hotel são cada vez menos ciência oculta; aqui, este mito fica reduzido a cinzas depois de entrar num forno a 500 graus.
O Holiday Inn Express & Suites Lisboa – Príncipe Real pode errar na designação (na verdade, fica ao lado do Jardim da Mãe de Água, entre o Largo do Rato e as Amoreiras), mas dificilmente falha na criação de um restaurante com nome próprio e que se parece afastar do tradicional espaço de hotel.
Aliás, esta é uma tendência já com alguns anos: restaurantes que, apesar de ficarem integrados em unidades hoteleiras, valem só por si. Pode ser por isso que vários hotéis preferem não ser associados a este tipo de restaurante, embora a ligação acabe por ser incontornável.
Com uma sala que pode ser considerada gigante, o 550º mantém uma iluminação demasiado forte e clara para o que seria de esperar. Aqui, pedia-se um tom mais quente e com intensidade mais baixo, talvez mais em linha com o signo do fogo que “alimenta” o 550º.

O banho de luz que ilumina o espaço parece não estar, igualmente, em linha com o mobiliário em madeira e com as agradáveis cabines com sofás em tons castanho escuro. Depois, há estruturas em malha de metal preto no tecto e em várias colunas, a fazer lembrar um ambiente mais industrial.
O projecto foi do atelier boutique Furtivo e inclui ainda um detalhe que remete de imediato para o fogo: na zona das cabinas com sofás, temos um friso com uma projecção holográfica de fogo. É psicológico, mas se escolhermos esta zona para jantar sentimos um calor que nas restantes mesas não é replicável – como o nosso cérebro nos engana…
É claro que isto também ajuda a ter uma refeição mais tranquila e, porque não, saborosa. O menu aposta na cozinha nacional com um twist (o chef é David Casaca), como provam os Mexilhões no Fogo à Bulhão Pato (8 euros – na foto em baixo), com um molho no ponto e mesmo a pedir vários nacos de pão ensopado até à última gota.

Ainda nas opções de partilha, chegaram à mesa Pimentos Pádron na Brasa (6 euros), levemente chamuscados e com a dose certa de sal – no nosso caso, nenhum picou. Entre as outras opções para começar a refeição e partilhar, serão mais curiosos os Mini Calzones Picantes e mais tradicional a Tábua de Enchidos Alentejanos.
Nos pratos principais, é interessante a aposta do 550 numa série de pratos para duas pessoas em modo Arroz de Forno: Peixe do Dia, Vegetariano, Camarão Tigre e Rib Eye, com preços entre 36 e 44 euros. Como alternativa, a nossa escolha, foi para dois cortes de carne ‘No Fogo’: Entrecôte Angus (250 gramas, 35 euros) e Picanha Angus (200 gramas, 22 euros).
Ambos do Uruguai e ‘grain fed’ são duas boas sugestões para quem se quer deixar levar pelos prazeres da carne. Aqui, a receita é óbvia – pedir mal ou médio mal passado é o passaporte para que tudo se derreta na boca. Peça as Batatas Fritas com Maionese de Alho (5 euros) e uns Legumes Assados no Carvão com Burrata e Paleta de Porco Preto Alentejano (16 euros – na foto em baixo) para fazer o pairing ideal.

Para terminar a refeição, o fogo continua a fazer uma gracinha, ainda que com um resultado não tão eficaz como na carne: foi o que aconteceu no nosso Crumble de Ananás Grelhado (6 euros), com um sabor demasiado fumado, que não se tornou agradável no contraste com a caramelização da fruta. Por outro lado, a Limão e Merengue é mais consensual, com um equilíbrio mais ponderado entre doce e amargo.
O 550º tem um atendimento de excepção, preços muito em conta para o género e pretos executados no ponto, mas há espaço para algumas melhorias no que respeita à iluminação e, talvez, à banda sonora, para não alternar entre sons eléctricos do Caribe e a doçura da Bossa Nova. Este ainda não é, em definitivo, o ‘restaurante de hotel que não quer ser de hotel’, mas a base está lá.