O Frontera regressou em 2024, mas quem esperava encontrar o espรญrito do modelo original, lanรงado nos anos 90, vai descobrir um automรณvel totalmente diferente.
Aquele SUV de ar robusto da Opel, com barras frontais em ferro a proteger a grelha e os farรณis (que lhe davam um aspecto quase de carro de combate todo-o-terreno), deu lugar a um SUV do segmento C, mais bonitinho que preparado para ficar sujo de lama e terra.
Este รฉ mais um modelo clรกssico recuperado por uma marca, uma “galeria” onde estรฃo, por exemplo, o Renault 5, o Fiat Panda ou o Ford Capri – curiosamente, deste trio, apenas o primeiro manteve o espรญrito original e, atรฉ, foi mais alรฉm. O modelo que a marca francesa conseguiu criar รฉ um herdeiro legรญtimo do 5 original, que honra o legado deste utilitรกrio.
Infelizmente, nรฃo podemos dizer nada disto em relaรงรฃo ao Frontera: a Opel tirou-lhe tudo o que havia de emblemรกtico em relaรงรฃo ao modelo dos anos 90. Nรฃo hรก uma linha, um detalhe, que nos faรงa lembrar do jipe onde viajรกmos durante alguns anos, nesta dรฉcada, para a Chamusca com os pais de um vizinho nosso.
A Opel limitou-se a pegar neste nome e colรก-lo num modelo que, fruto das fusรตes entre marcas dentro de um grande grupo, acaba por partilhar a plataforma e o formato com outro automรณvel. Estamos a falar, claro, do Citroรซn C3 Aircross: os dois modelos sรฃo mesmo muito parecidos, mesmo no design exterior, devido ao uso da arquitectura Smart Car, derivada da CMP, do grupo Stellantis.
Assim, temos um Frontera com um visual “quadradรฃo”, pouco aerodinรขmico, mas que acaba por transmitir solidez: nada na linha dos modelos dos anos 90, mas a verdade รฉ que hรก uma “imponรชncia contida” na forma como este SUV se passeia pelas estradas.
Se hรก coisa de que gostamos nos modelos Opel รฉ da linguagem Vizor, que jรก tรญnhamos destacado no Grandland. Aqui, temos uma dianteira com uma barra preta a integrar o novo logรณtipo Blitz e farรณis Full LED; a traseira acompanha esta identidade sem destoar, mas um logo iluminado como no Grandland seria uma espรฉcie de “luz no topo do bolo”.
A versรฃo GS, que conduzimos, acaba por trazer vรกrios detalhes desportivos ao Frontera (como o pรกra-choques num tom diferente do da carroรงaria – no nosso caso, era prateado). Uma das opรงรตes รฉ escolher uma cor diferente para o tejadilho (como no Aircross), mas na unidade ensaiada, em Preto Karbon (extra de 500 euros), esta dualidade cromรกtica nรฃo existia.
Ainda no design, as barras longitudinais no tejadilho deste Frontera GS fazem parte do Pack Conforto, que traz tambรฉm farรณis de nevoeiro dianteiros e o Pack Inverno, com aquecimento de bancos e volante: tudo custa mais 600 euros.
No habitรกculo, alรฉm dos bancos confortรกveis e bem ajustados em tecido Intelli-seat, o destaque sรฃo os dois ecrรฃs de dez polegadas, um para o infoentretenimento (virado ligeiramente para o condutor, o que continua a ser uma boa opรงรฃo da Opel) e outro para o painel de instrumentos.
Muito mais simples do que os de outros automรณveis que temos testado, o sistema multimรฉdia (com Apple Car Play e Android Auto) cumpre e ganha pontos pela intuitividade. Os menus nรฃo sรฃo confusos e tรชm apenas o bรกsico: por exemplo, hรก apenas um dedicado ร s configuraรงรตes do Frontera e, mesmo este, nรฃo tem assim tantas opรงรตes. Este nรฃo รฉ, decididamente, um computador com rodas.
Contudo, nรฃo podemos deixar de criticar a ausรชncia de um botรฃo fรญsico para o volume: desta forma, o passageiro do lado รฉ obrigado a usar os respectivos controlos tรกcteis no ecrรฃ, que sรฃo menos prรกticos. Pelo menos, รฉ um desincentivo a que seja ele a definir o volume a que ouvimos a nossa rรกdio ou mรบsica preferida…
Na consola central, a Opel manteve botรตes fรญsicos para climatizaรงรฃo (desta forma, a falta do botรฃo de volume รฉ ainda mais difรญcil de aceitar) e o selector de marcha jรก conhecido do Grandland e do C3 Aircross.
Aqui, surge uma posiรงรฃo ‘L’, onde noutros modelos estรก a de regeneraรงรฃo (‘B’) โ habitual ver nos elรฉctricos. No Frontera MHEV, este modo nรฃo aumenta, claro, a regeneraรงรฃo, mas a marca garante que encurta as relaรงรตes da caixa automรกtica e faz subir as rotaรงรตes, o que acaba por reforรงar a travagem do motor.
Isto serรก รบtil em descidas longas, mas nรฃo vai servir para carregar de forma mais vincada a bateria, dado que isto รฉ feito de igual forma, estando o Frontera em ‘L’ ou ‘D’. Contudo, em ‘L’, nรฃo sentimos nada de palpรกvel na conduรงรฃo: este SUV tem o mesmo comportamento dinรขmico em ambos os modos.
Em termos de arrumaรงรฃo, esta versรฃo do Frontera dรก-nos um carregador Qi ร frente e alguns espaรงos menos bem conseguidos. Por exemplo, os suportes para garrafas, junto aos botรตes do AC, podem atrapalhar a sua utilizaรงรฃo, sobretudo se usarmos umas maiores. Fora isto, hรก apenas um compartimento mรญnimo, embora complementado com um alรงapรฃo generoso sob o apoio de braรงo central.
Virando a agulha para o painel de instrumentos, fica a sensaรงรฃo de que a Opel o podia ter aproveitado melhor. Apesar de ter espaรงo para nos dar mais, peca por ter pouca (ou mesmo nenhuma, se falarmos dos grรกficos) personalizaรงรฃo. E, depois, dar ร chave num modelo hรญbrido, como jรก tรญnhamos experimentado no novo C3 elรฉctrico? A contenรงรฃo de custos tem, aqui, uma das suas principais vรญtimas: o botรฃo ‘Start/Stop’.
Ao centro, andรกmos quase sempre com a indicaรงรฃo dos consumos visรญvel, alternando com uma visualizaรงรฃo animada do fluxo energรฉtico. Esta mostra-nos a relaรงรฃo entre o que estรก a ser usado: o motor 1.2 turbo de 145 cv ou a bateria de 0,89 kWh, num sistema de 48 V.
Esta bateria nรฃo permite, obviamente, fazer uma conduรงรฃo em modo totalmente elรฉctrico, como, de resto, acontece com qualquer MHEV. Serve, sim, para apoiar arranques do motor a gasolina e melhorar a eficiรชncia. Nisto, o Frontera merece, e muito, a nossa vรฉnia.
Durante o perรญodo de conduรงรฃo, que envolveu auto-estrada, cidade e muitas vias secundรกrias, os consumos ficaram na ordem dos 5,5 l/100 km, muito prรณximos dos 5,3 l/100 km anunciados pela marca, apรณs mais de 300 km percorridos. Nรฃo temos qualquer problema em acreditar que, com uma conduรงรฃo menos agressiva do que a nossa, o novo Frontera chegue aos 800 km de autonomia com um “tanque” cheio (44 litros).
Na conduรงรฃo, mais uma coisa que nรฃo nos caiu no goto: o Frontera mostra um certo atraso na resposta do acelerador, o que prejudica as aceleraรงรตes. Sentimos isso na altura de fazer uma ultrapassagem ou, simplesmente, no arranque normal, depois de estarmos parados.
Por outro lado, a desactivaรงรฃo dos sistemas de ajuda continua a ser muito prรกtica, uma marca distintiva dos Opel: temos dois botรตes ร esquerda do volante para desligar o assistente de faixa e o alerta de velocidade, o que nos evita estar a navegar por opรงรตes escondidas em menus labirรญnticos.
Com um preรงo base de 24 990 euros, que na versรฃo ensaiada (e com os opcionais sobe para 31 090 euros), este Frontera Hybrid GS 1.2T de 145 cavalos deixou-nos um sabor agridoce. Nรฃo รฉ tรฃo emotivo na conduรงรฃo como alguns rivais, mas dรก-nos um equilรญbrio entre conforto a bordo, tecnologia simples e consumos muito reduzidos.
E, ร s vezes, รฉ isto mesmo que pode agradar a quem procura um SUV prรกtico, equipado q.b. e que, apesar de ser um irmรฃo gรฉmeo do Aircross, nรฃo deixa de ter aquela marca de qualidade alemรฃ, da Opel.