À beira de fazer oitenta anos, a Herdade da Barrosinha está a preparar uma revolução para 2025. Os novos donos estão ligados às artes e vão transformar antigos armazéns em oficinas para residências permanentes.
A ideia inicial era passar um fim-de-semana na Herdade da Barrosinha e perceber a oferta turística em época baixa deste empreendimento à beira do Sado. Com o pretexto da iniciativa Wine & Jazz Weekends, o TRENDY Report foi até Alcácer do Sal, mas o âmbito da reportagem mudou em menos de 24 horas.
Cedo ficámos a perceber que o turismo é apenas metade da equação que a Barrosinha está a preparar para 2025. Agora com novos donos, o grupo Creative Habitat Group – Turismo e Arte Ltd., o objectivo é transformar a Herdade no novo hub artístico do Alentejo. O “timoneiro” deste projecto é o romeno Mircea Anghel, filho de um ex-embaixador da Roménia em Portugal e o principal rosto desta mudança.
Na Barrosinha, Mircea Anghel desenvolve peças em madeira no antigo edifício da Serração Mecânica da herdade (imagem em cima); na mesma zona, naquilo a que se pode chamar a “praça central” deste futuro pólo artístico, está mais uma série de antigos espaços ligados à produção agrícola – num deles encontramos a Frizbee Ceramics.
Este colectivo belga instalou-se na Barrosinha «há cerca de um ano», é um exemplo vivo do potencial deste projecto. Num espaço de «350 metros quadrados, trabalha uma equipa de doze pessoas» que cria peças icónicas como as taças inspiradas em bolas de basquetebol e pratos em forma de discos voadores, explica Nuno Leite, general manager da Herdade da Barrosinha.
Aqui há ainda uma antiga escola primária que, hoje, dá lugar ao restaurante típico Taberna e a um espaço gastronómico de grelhados que começou como pop-up no Verão de 2023 e acabou por ficar em permanência. Liderado pelo chef brasileiro Zito Lara, fica no Pátio das Laranjeiras, onde antigamente era o recreio dos alunos que frequentavam a escola.
O edifício desta escola, onde andavam os filhos dos trabalhadores da Herdade da Barrosinha, também já é a casa de um projecto gastronómico de fermentados artesanais, o Vivus. Criado pelo chef José Maria, esta iniciativa já tem em curso a produção de picantes, mostardas, ginger beer e hidromel, naquilo a que se pode considerar como uma ligação deste hub artístico à tradição e à sustentabilidade.
Durante a visita que fizemos com Nuno Leite, passámos ainda por um antigo armazém de arroz onde vão ficar dezasseis ateliers para residências artísticas permanentes a partir de Abril de 2025. «Não queremos que as pessoas apenas passem por cá e se vão embora, queremos que fiquem e que desenvolvam as suas peças para valorizar a região», disse Mircea Anghel.
Assim, será lançado um ‘call for artists’ no final de Janeiro, para abrir portas a «criativos de diferentes áreas». Entre as disciplinas contempladas estão o trabalho em «metais, cerâmica, betão, madeiras e a exploração de materiais naturais», mas também vai haver espaço para artes mais digitais, como o vídeo e a fotografia.
O conceito passa por um ambiente de «integração orgânica» entre hóspedes da Herdade da Barrosinha e os artistas residentes, já com uma série de workshops nos estúdios de cerâmica da Frizbee e design de mobiliário com Mircea Anghel, «previstos para Maio».
Com uma área de dois mil hectares, e sem pretensões de «rivalizar com a oferta da Comporta», a Herdade da Barrosinha irá tornar-se um destino que alia o luxo discreto de boutique hotel a um ambiente industrial cru (como acontece, por exemplo, na LX Factory) e a «experiências regionais autênticas», garante Nuno Leite.
Em 2025, a Barrosinha quer posicionar-se como um destino focado na arte e no vinho, com o objectivo de reforçar a importância das relações com a comunidade local, os hóspedes e os artistas que vão passar a chamar ‘casa’ a esta Herdade.