Desde o fim da produção do Punto que a marca italiana não tinha um automóvel capaz de competir no sempre complicado mercado dos utilitários. Isso muda mesmo com o 600e?
A FIAT é daquelas marcas históricas e querida em Portugal, muito por culpa de modelos icónicos como os 127, Ritmo, 500, Seiscento, Cinquecento, Panda, Uno ou Punto, todos automóveis que nos habituámos a ver nas estradas, nos últimos quarenta anos.
A marca italiana rendeu-se aos eléctricos e já tinha o 500e com este conceito; agora chegou a vez do 600e, um modelo que marca o regresso da FIAT ao chamado ‘segmento B’, onde estão os utilitários. Note-se que não havia uma proposta sua aqui, desde o fim do Punto, em 2018.
O 600e La Prima, aqui numa versão “pintada” em Laranja Sun of Italy bastante atractiva, tem um design que lhe dá ares de crossover/SUV, com uma grelha perfurada, que não é comum encontrar em eléctricos.
O resultado é um aspecto desportivo e robusto, apesar de ter detalhes nas ópticas dianteiras semelhantes ao tipo de maquilhagem que dá o look olhos de gato. Não podemos deixar de sublinhar que isto nos dá a sensação de que o 600e La Prima é um carro que vai apelar muito mais ao público feminino.
Como acontece no 500e, aqui, estas ópticas são, igualmente, metade cobertas (parecem olhos semicerrados), típico dos FIAT eléctricos – é uma forma de os diferenciar dos modelos a combustão. De resto, este é um automóvel muito fashion: um dos detalhes que mostram isto são as cores da bandeira de Itália integradas no logo, na traseira.
No interior, os bancos acabam por ser a extensão desta ideia: em pele creme, com o nome da marca bordado a azul claro na zona do apoio das costas, juntamente com o ‘600’ em grande. Porém, gostávamos de ver isto alargado ao tablier, demasiado banal para um automóvel que promete tanto por fora.
Aquilo de que gostámos mesmo foi do facto de os alertas dos assistentes de condução serem nada intrusivos (em termos de som e gráficos): se ultrapassarmos os limites de velocidade de uma estrada ou cruzarmos uma faixa de rodagem em fazer pisca, o 600e mantém-se quase silencioso. Ainda assim, há um botão físico com o símbolo de um carro por baixo do ecrã táctil onde podemos desligar os avisos
Neste local temos ainda o botão ‘Home’, para voltar ao ecrã inicial do sistema de infoentretenimento, o das luzes de emergência (vulgo, ‘quatro piscas’) e o de bloqueio/abertura de portas. Esta é, ainda assim, uma zona estranha para colocar estes botões: dá a ideia de que a FIAT os quis esconder, pois estão entre duas saídas de ar e passam um pouco despercebidos. Pelo menos o de ‘Home’ e o que dá acesso ao menu dos alertas deviam estar mais perto do ecrã ou até mesmo associado a ele, na moldura.
Mas abaixo temos uma fila de botões físicos essencialmente para controlar a climatização. Ao todo são dez, incluindo um que dá acesso ao menu onde podemos ligar/desligar as três direcções do ar: cara, corpo e pernas. Aqui, podemos ainda ligar o aquecimento dos bancos e definir uma pré-climatização, ao definir uma contagem decrescente de uma determinada hora. Tudo é muito fácil de operar e, desta forma, faz mesmo sentido ter botões físicos.
No que respeita à arrumação, temos três opções, ao centro. A maior, à frente, com uma tampa dobrável, parece se uma daquelas capas de um tablet, em tecido e pele. Pela experiência que temos com este tipo de acessório, é muito provável que se deva deteriorar e sujar com o passar do tempo – temos de o estar sempre a dobrar para aceder ao compartimento. A sensação que fica é a de que é mais estética que útil.
Lá dentro, temos uma base para carregamento por indução com um indicador luminoso que nos diz se está a funcionar – obviamente que, se colocarmos o telemóvel aqui, este fica completamente escondido, evitando as distracções. O facto de este FIAT ter Car Play e Android Auto sem fios retira importância a este “detalhe”.
Neste compartimento estão, ainda, concentradas as ligações físicas: são duas USB-C e uma de isqueiro, ambas escondidas pela tampa, pelo que temos de a abrir totalmente para ver estas entradas. Quase só no final do teste é que percebemos onde estavam localizadas, tal o grau de “ostracização” a que a FIAT as devotou. Não percebemos esta opção da marca italiana, portanto.
Outra coisa que não nos agradou muito foi o sistema de infoentretenimento: tem um ecrã pequeno, não é muito intuitivo e os gráficos parecem ser os de um automóvel mais antigo; falta aqui um design mais actual e fashion para estar em linha com o que o automóvel transmite. Depois, os menus principais não aproveitam a totalidade do ecrã, o que leva a ter muitas zonas vazias .
O painel de instrumentos é outro dos elementos menos bem-conseguidos: mostra informação a mais e é muito modesto, quer em dimensões, quer pelo facto de estar metido numa espécie de túnel, mais uma marca que o equipara a um automóvel mais antigo.
Do que gostámos mesmo foi do volante – tem um bom grip e comandos intuitivos onde é fácil operar as funções multimédia e as do cruise control. Por exemplo, com o carregar de um botão podemos colocar o FIAT à velocidade máxima de uma via, para facilitar a redução/aumento de velocidade – já tínhamos visto isto no Peugeot E-3008.
Em condução, o FIAT 600e é automóvel muito estável em auto-estrada e bom de conduzir em vias com muitas curvas, uma vez que é bastante ágil. Todavia, com modo ‘Eco’ (apenas há mais dois – ‘Normal’ e ‘Sport’), este modelo torna-se muito lento e, em subidas mais inclinadas, é impossível ter este modo ligado, sob pena de vermos o mundo em câmara lenta.
A versão que testámos, La Prima, tem 156 cavalos (115 kW) e é um automóvel com uma bom leque de equipamento de série, como a Drone View 360º que se liga quando estacionamos; ou banco do condutor com massagem, e regulável de forma electrónica (o do passageiro é manual).
Com uma autonomia a rondar os quatrocentos quilómetros, conseguimos um consumo combinado de 12,2 kWh, muito abaixo dos 15,2/100 que são a referência da marca. O preço é algo exagerado: quarenta mil euros (38 950) por um utilitário FIAT faz com que o seu desempenho de mercado se afigure como muito complicado. Neste regresso ao segmento B, pedia-se uma opção mais equilibrada.