Primeiro estranha-se, depois entranha-se? Este é um dos smartphones mais curiosos que já tivemos oportunidade de testar: é um leitor de e-books e telemóvel com Android.
Os e-books são um daqueles gadgets que escaparam ao “tsunami” dos smartphones, que arrasou com leitores de MP3, gravadores de voz digitais e máquinas fotográficas compactas. Nada nos impede de ler um livro num smartphone, e até há apps que emulam o aspecto e a experiência de um leitor de livros electrónicos.
Aqui, as grandes vantagens são duas: obviamente, podemos transportar centenas de livros num dispositivo compacto; e a bateria dura dias, uma vez que a tecnologia de e-ink tem consumos mínimos. A pergunta que se põe é: porque é que este conceito do Boox Palma não é mais comum – um leitor de e-books que funcione como telemóvel?
Talvez porque as empresas que fazem e-readers não estão para se atirar de cabeça para o mercado dos smartphones, nem as grandes marcas de smartphones querem criar um híbrido que seja mau em duas coisas. A TCL “arranhou” este conceito com os ecrãs Nxtpaper, mas nada chega perto do que o Boox Palma (299 euros) propõe. Mas será este o melhor de dois mundos? Na nossa opinião, este é o possível de dois mundos.
Um smartphone que põe os nervos à prova
Vamos ser directos: como smartphone, com todas as capacidades que esperamos de um dispositivo destes, o Boox Palma é irritante. Mas isto não é necessariamente uma crítica, até porque não podemos estar à espera que um ecrã e-ink tenha o mesmo desempenho de um AMOLED topo de gama.
A actualização do display é como a de um e-reader e tudo acontece de forma muito lenta – por exemplo, é um suplício fechar aplicações, deslizar pelos menus e escolher opções. Usar o Boox Palma como smartphone, e com apps que é possível descarregar da loja Google, não é recomendável – a não ser, claro, que esteja preparado para esperar, carregar duas ou três vezes no mesmo ícone para acontecer alguma coisa ou escrever rapidamente.
Ainda assim, se numas férias quisermos ir para a praia e levar apenas um dispositivo, podemos colocar o cartão SIM no Palma e, entre ler algumas páginas, podemos enviar mensagens pelo WhatsApp ou ver vídeos no YouTube (até nem se porta tão mal como esperávamos).
Como e-reader, não temos um grande ecrã para ler livros (o que também pode não agradar a muitos fãs deste tipo de dispositivos), mas é claro que é aqui que o Boox Palma está como peixe na água, com uma loja para comprar livros e onde podemos instalar as apps Kindle e Kobo, se já as usarmos noutros equipamentos.
A leitura, per si, como é uma actividade calma e demorada, não vai sofrer com a lentidão do sistema, até porque é a isto que os utilizadores de e-readers estão acostumados.
Temos de entender o Boox Palma como uma experiência: não é fácil para uma marca criar um dispositivo completamente novo, principalmente quando é uma empresa mais modesta, à procura de encontrar o seu lugar entre dois mundos.
Este híbrido é um dispositivo muito curioso, intrigante e que se pode tornar muito útil quando não queremos andar com um e-reader e um smartphone a fazer peso nos calções de banho.