Quando surgiu a oportunidade de ir conhecer melhor o Miss Jappa, e não sendo um grande apreciador de sushi, duvidei que a cozinha de Anna Lins me pudesse convencer. Não podia estar mais enganado.
Se está com a mesma dúvida que eu, fique já esclarecido: o Miss Jappa não é um restaurante de sushi. Aliás, dos 21 pratos que compõem a carta deste espaço que abriu recentemente no Príncipe Real (fora as sobremesas), as sugestões do sushi bar são apenas seis.
O menu encontra-se dividido, além desta “categoria” em cinco: Japanese Junk Food (uma espécie de comida rápida de rua), Old Timers (os clássicos), Atarashi (as novidades), os Quentes (oh meu deus, o ramen!) e as sobremesas.
Há uma ideia transversal a todo o menu: a partilha. Anna Lins, a primeira sushiwoman nacional e a mente brilhante por detrás deste conceito (no fundo, a própria Missa Jappa em pessoa), quis que os seus pratos não tivessem um cariz muito individual.
Adoramos isto: partilhar comida é partilhar amor. Para quem é feliz a comer, este espaço aconchegador e intimista em Lisboa tem tudo para servir de “ninho” gastronómico ao almoço (no pequeno jardim com esplanada, por favor) ou ao jantar (pode ser à luz de uma vela, claro).
Num restaurante com um serviço muito simpático e atencioso, onde nos explicam tudo o que há para saber sobre os pratos, os pedidos começam a chegar à mesa com cores vibrantes e com aquele ar de quem saiu de uma cozinha perdida, algures na baixa de Tóquio.
Os olhos, que também comem, começam a brilhar assim que os Harumaki (oito peças de salmão, rolo de papel de arroz com takuwan, folha de sisô e molho de laranja) chegam à mesa. Antes já nos tínhamos perdido (de amores e sabores) com as Okonomiyaki, as deliciosas panquecas de couve feitas na chapa com camarão, maionese de tonkatsu e lascas de atum seco.
Para acompanhar o festim de comida asiática que nos chegava à mesa, como o fogo de artifício chega aos céus e nos ilumina os olhos, dois cocktails: o Miss Jappa (puré de lichias, saké, limoncello e Campari) e o Tokyo Garden (lemongrass, lima, gengibre, Tanqueray, coentros, ginger ale e folha de hortelã).
Tudo é tão bom que dói. Mas o melhor ainda estava para chegar, sob forma de duas jóias da cozinha da Anna Lins: a primeira é foi uma das mais originais que já provei e é óptima para pedir se for ao Miss Japa com mais cinco amigos. A Roleta Russa de 6 Gunkan tem um conceito bastante original: entre seis peças há uma que tem uma malagueta extremamente picante.
Quem for o azarado, tem de beber o shot de saké que vem a acompanhar a roleta e, na nossa opinião, pagar a conta. Este é daqueles pratos que tem mesmo de pedir e onde vale a pena arriscar. Nem que seja apenas para ver a cara de quem come a malagueta.
Mas, a piéce de resistance do Miss Japa estava guardada para o final da refeição. e não, ainda não vamos passar à sobremesa. Foi nos quentes que descobrimos uma pérola chamada Ramen de Espinafres Salteados, Abóbora, Shitake em Pó e Ovo, que vem cozido, mas ainda com a gema líquida, e que acaba por dar um toque especial ao prato.
E como há sempre um cantinho do estômago reservado para a sobremesa, tivemos mesmo de experimentar o Mini Crepe de Banana e Chocolate, servido com Gelado de Limão e Fios de Cenoura Crocante. E sim, soube tão bem (ou melhor) como sugere a descrição. O chocolate volta a marcar presença noutra sugestão a ter em conta: a Tarte de Chocolate, Toffee e Gelado de Gengibre.
O Miss Japa é daqueles restaurantes de onde se sai de coração cheio e alma lavada. Entra-se, absorve-se o ambiente, somos dominados pelos aromas e pelo sabor do menu criado por Anna Lins e mal se sai, só nos apetece voltar a entrar.
Os preços estão na linha do que é possível encontrar em restaurantes do género e uma boa refeição não ultrapassa os 25 euros por pessoa. Os dois pratos mais caros podem ser encontrados no Sushi Bar: o Sushi to Sashimi (com vinte peças) e o Sashimi Miss Jappa (com quinze peças) chegam aos 18 euros.
Os cocktails, que recomendamos vivamente para fugir ao vinho e à cerveja, andam entre os 5 e os 7 euros e têm nomes sugestivos como Cutie, Lazy Days ou Pink Tie, a que se juntam os que já referimos.
Num espaço bem decorado, embora a abusar muito do cinzento (que está em toda a parte) e com uma esplanada/jardim na traseiras que merecia ser mais ampla, o novo restaurante de Anna Lins destaca-se das restantes ofertas que existem no Príncipe Real por oferecer um conceito de partilha e pela óptima relação qualidade/preço.
Jantar, almoçar, beber um copo ao fim do dia ou petiscar, tudo deve servir de pretexto para entrar neste pedacinho de Japão que fica num dos pulmões de Lisboa.