Abarth 600e Scorpionissima: conduzimos o ninho de escorpiões da FIAT que nos deixa sempre o pé preso ao acelerador

Se a intenção da Abarth era criar um eléctrico verdadeiramente entusiasmante, mesmo ao recorrer a uma plataforma menos óbvia que a dos FIAT 500, o objectivo foi mais que cumprido.

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O Abarth 600e leva a insígnia de performance da FIAT a um novo patamar. A versão Scorpionissima, limitada a 1949 unidades, é a mais exclusiva de sempre e também a mais potente alguma vez criada: 207 kW.

Os automóveis que têm saído da casa do escorpião são todos bons exemplos de como a transição de um modelo desportivo a combustível (ou a criação de raiz) para motorizações 100% eléctricas não tem de ser um pãozinho sem sal.

Estes 280 cavalos, 345 Nm de binário e uma aceleração dos 0 aos 100 em 5,85 segundos provam isso mesmo. O que a Abarth fez aqui não foi apenas “electrificar” o 600: este é um automóvel pensado e desenvolvido em parceria com a Stellantis Motorsport, com base em «testes reais de Fórmula E», garante a marca.

Não é preciso muito tempo ao volante para perceber isto: a resposta ao pisão no acelerador é instantânea, com o 600e sempre a desafiar-nos a puxar por ele. E o impacto nos consumos nem é assim tão assustador: esperávamos algo na ordem dos 25 kW/h, mas terminámos o nosso período de teste com 19,1, com a bateria deixada sensivelmente a meio.

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É verdade que quem escolhe um Abarth, seja eléctrico ou a gasolina, não está a pensar em poupança, mas aconteceu-nos o mesmo que no 500e Cabrio, onde até conseguimos uma média bastante inferior à anunciada pela marca: 13,8 contra 17,9 kW/h aos 100.

No que respeita ao design, era quase impossível pedir um visual mais racing e agressivo como este: nem parece que, na base, temos um FIAT 600 igual ao que conduzimos em 2024, o La Prima. Aqui, tudo transpira competição, a começar pela cor

O Roxo Hypnotic é mesmo a cor mais impressionante que vimos este ano num modelo que conduzimos: reflecte luz de forma iridiscente, passando de um roxo profundo para um tom mais claro, quase rosa. É como se tivesse saído directamente de uma banda desenhada de super-heróis ou de um episódio dos Thunderbirds.

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Por dentro, este 600e continua possuído pelo espírito de pista. Os bancos Sabelt em alcantara e pele, com apoios de cabeça e lombares integrados, abraçam-nos como se estivéssemos num casulo e garantem uma posição perfeita para atacar curvas, embora em viagens longas a sua rigidez comece a ter impacto negativo no conforto.

As pinças de travão da Alcon brilham em verde fluorescente, o diferencial é da Jtekt e as jantes de 20 polegadas têm um design inspirado nas pinças do escorpião. Por falar neste animal, há-os por todo o lado: nos pára-choques, no spoiler, nos bancos, no volante, no tablier e até nas tampas das jantes, o que faz deste modelo um verdadeiro ninho de escorpiões sobre rodas.

A forma como tudo isto se traduz na estrada é simples: pura diversão. Depois de termos conduzido o amuse-bouche 500 Abarth, este 600e é claramente o prato principal e coloca-se ao lado do Renault 5 E-Tech no campeonato dos eléctricos mais entusiasmantes de 2025, sendo um forte candidato ao título de ‘Automóvel do Ano’ para a MotorMais.

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No cockpit, temos uma abordagem pouco minimalista e mais analógica, com uma faixa onde estão duas mãos cheias de botões para a climatização e mais uma com grandes botões de selecção de marcha; contudo, fica a sensação de que uma alavanca faria mais sentido num carro com tanto ADN desportivo.

Já o sistema multimédia impressiona pela rapidez. O ecrã de 10,25 polegadas pode parecer estreito, mas é dos mais fluidos que usámos este ano, com CarPlay e Android Auto sem fios. No menu ‘Desempenho’, controlamos parâmetros da bateria, potência, acelerações e até medimos força G. É aqui que também podemos activar um som artificial de motor a combustão projectado para o exterior. Não faz sentido? Talvez. Mas impressiona e, no fundo, é um piscar de olho às suas origens térmicas.

Sobre as tecnologias de segurança, este Abarth vem com tudo o que importa: condução assistida de nível 2, cruise control adaptativo, Traffic Jam Assist, monitorização de ângulos mortos, sensores Drone View 360° e câmara traseira com linhas dinâmicas. O botão físico para desligar os ADAS é muito prático (o que tem o ícone de um automóvel), mas, sendo este um modelo irreverente, não nos teria chocado encontrar um “gatilho” para desligar vários alertas de uma só vez.

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Já nos modos de condução, não há espaço para “economias”, embora o ‘Touring’ amanse o escorpião; contudo, quer o ‘Scorpion Street’, quer o ‘Scorpion Track’ trazem ao de cima os instintos mais competitivos deste modelo, ambos com uma aceleração super-disponível.

Num modelo mais desportivo, seria também de esperar encontrar concessões na arrumação, mas o 600e Scorpionissima faz corar alguns SUV de gama superior. Há um grande alçapão central com tampa em alcantara e carregamento Qi escondido, mais um fundo sob ao apoio de braço e suportes de copos/garrafas a meio.

O Abarth 600e Scorpionissima chega praticamente como um automóvel “chave na mão”, sem grandes margens para configurações: com os Pack Scorpion Tech, Winter, Design e Gaming já incluídos, os únicos opcionais são o cabo de carregamento de Modo 2 (345 euros) e os pneus Eco por 90 euros, já que os Performance vêm de série. Tudo isto fica por 47 647 euros.

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Se a intenção da Abarth era criar um eléctrico verdadeiramente entusiasmante, mesmo ao recorrer a uma plataforma menos óbvia que a dos FIAT 500, o objectivo foi mais que cumprido. Com o Scorpionissima, o escorpião picou-nos outra vez e deixou uma marca mais forte que a que tinha ficado com o 500e Abarth.

Começou no jornalismo de tecnologias em 2005 e tem interesse especial por gadgets com ecrã táctil e praias selvagens do Alentejo. É editor do site Trendy e faz regularmente viagens pelo País em busca dos melhores spots para fazer surf. Pode falar com ele pelo e-mail [email protected].