O G6 foi o modelo com que a Xpeng se estreou em Portugal. O alvo a abater é óbvio: o Model Y da Tesla; mas, se na tecnologia ficámos convencidos, no design nem tanto.
No período de testes que tivemos com o modelo mais compacto da marca chinesa, houve sempre uma ideia que não nos saiu da cabeça: se houvesse mais irreverência no design exterior do G6, o Model Y podia ter aqui um grande problema (se bem que, com a queda nas vendas que a marca de Elon Musk tem tido…).
As semelhanças conceptuais com o modelo da Tesla estão nas linhas minimalistas às ópticas LED horizontais em formato de faixa, tanto à frente, como atrás. Não foi por acaso que houve quem confundisse este modelo com um Tesla e nos viesse perguntar se era algum novo modelo da marca norte-americana.
Ainda assim, o G6 consegue encontrar uma identidade própria, graças a formas mais arredondadas, ao aro que recorta os guarda-lamas, às jantes de vinte polegadas e um spoiler discreto, bem integrado na silhueta. O aspecto geral é aerodinâmico, com um certo ar de seixo moldado pela água do mar ou do rio, potenciado pela cor Silver Frost.
Com 4,7 metros de comprimento, 1,9 de largura e 1,6 de altura, o G6 tem proporções equilibradas e ainda nos mete ao serviço uma bagageira muito generosa, com 571 litros. Experimentámos carregar o G6 com dois sets de equipamento para bodyboard (pranchas e mochilas com fatos) e, mesmo assim, seria possível guardar aqui mais um conjunto, pelo menos. Desta forma, a falta de uma frunk passa mais despercebido, ainda que fosse útil para guardar os cabos de carregamento atrás.
O habitáculo é dominado por um ambiente tecnológico e minimalista, algo que já tínhamos visto no G9; um dos detalhes mais emblemáticos é o facto de os puxadores tradicionais das portas serem substituídos por um botão. Os bancos em pele e o tecto panorâmico fixo aumentam a sensação de espaço e conforto, que pode ser ainda mais potenciada pelos modos de relaxamento ‘Espaço Mindfulness’ e ‘Espaço de Repouso’.
Quando os ligamos, a partir do ecrã de info-entretenimento, os bancos dianteiros rebatem-se e o sistema de som entra em modo ‘natureza’, com chilreios e água a correr, entre outros efeitos. Esta pode ser uma boa forma de descansar em viagens mais longas, mas podia haver uma forma de escurecer os vidros – pelo menos o tecto panorâmico – para que isto tivesse ainda mais impacto.
Do ponto de vista prático, o G6 oferece boas soluções de arrumação: duas bases de carregamento Qi na consola central com ventilação, mais duas bases para garrafas/copos (embora mais pequenas que o habitual), um compartimento muito generoso e fundo sob o apoio de braço e mais espaço escondido sob a consola, estilo ponte (aqui, com boa facilidade de acesso), onde também estão as portas USB-A, USB-C e uma de 12V.
Ainda assim, há pontos que podiam ter sido alvo de outra abordagem por parte da Xpeng: um deles é o vidro traseiro, muito estreito, a comprometer a visibilidade. Já que este modelo é apresentado como sendo um “ícone” de tecnologia e inteligência, teria tido mais sentido incluir um ecrã em vez do espelho, como vimos no Polestar 4. Não é que tenhamos preferência, ou até gostemos muito desta solução, mas para ter um vidro tão pequeno, mais valia tê-lo deixado na “gaveta”.
À frente, e ao contrário do G9, há apenas dois ecrãs: o painel de instrumentos de 10,26 polegadas e o ecrã principal táctil de 14,96, que concentra todas as funções do automóvel, dado que botões físicos, nem vê-los, na consola central. Esta abordagem 100% digital traz vantagens e desvantagens.
Por um lado, a interface do sistema Xopera é limpa e rápida, com uma organização superior à de muitas marcas chinesas e até ocidentais, cujos modelos temos conduzido. Por outro, a dependência (quase) total deste ecrã para aceder a funções básicas pode tornar-se frustrante – quase que só faltava termos também aqui o controlo dos vidros das portas.
Como já tínhamos experimentado no G9, a regulação dos espelhos, por exemplo, exige múltiplos passos. Os botões do volante são contextuais e nem sempre intuitivos. Afinal, quem quer ter, aqui, o controlo da força do ar condicionado e da temperatura, em vez dos do cruise control?
Ainda assim, o Xopera tem, claro, funcionalidades bem pensadas. Por exemplo, o modo de chassis transparente ajuda a vermos a posição do G6 em espaços apertados; as câmaras montadas nas portas mostram com bom detalhe (mesmo à noite) o que se passa nas faixas laterais, para aumentar a segurança em mudanças de via ou ultrapassagens; e os alertas são facilmente desactiváveis, incluindo o de excesso de velocidade, que pode ser desligado logo após a primeira vez em que passamos o limite.
A forma como o G6 assume a mudança entre os modos de condução — ‘Eco’, ‘Normal’ e ‘Sport’ — também nos agradou: há animações no painel e uma pequena intro sonora. Contudo, mais uma vez estamos dependentes do ecrã para fazer isto, assim como no caso do ajuste do grau de regeneração (com o X-Pedal activado, é possível conduzir só com o acelerador, embora o G6 não chegue a parar por completo).
Na parte mais técnica, temos 272 cv e um binário de 440 Nm, o que garante acelerações interessantes, mesmo em modo ‘Eco’; contudo, o destaque vai para o ‘Sport’, onde até temos uma opção de launch control, para arrancarmos do zero, logo com a disponibilidade máxima do motor.
A bateria NCM tem 87,5 kWh e garante até 570 km de autonomia (WLTP): no nosso ensaio, com cerca de duzentos quilómetros percorridos em vários modos de condução, com mais insistência no ‘Sport’, o consumo médio foi de 15,5 kWh/100 km, um valor bastante razoável, tendo em conta resultados que temos conseguido com outros modelos semelhantes.
Por 51 295 euros, o Xpeng G6 (aqui na sua versão RWD Long Range) posiciona-se no segmento dos SUV eléctricos de média dimensão. Junta uma boa autonomia, bons recursos tecnológicos, conforto e um design que, no limite, é intrigante e capta atenções.
Mas a excessiva dependência do ecrã para controlar funções essenciais torna-se um foco de distracção e contra-producente com uma condução segura. Será por isso que a Xpeng tem nos seus automóveis um dos conjuntos mais completos de ADAS?