A Casa da Réssa nasceu da luz, da terra e do silêncio: serão estes os novos supervinhos do Douro?

«Temos vinhas nobres e diferenciadoras, que merecem ser "ouvidas". É isso que tentamos fazer com cada vinho: deixar a vinha "falar"», dizem os responsáveis desta nova produtora.

©TRENDY Report | Casa Ressa
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Há uma nova marca de vinhos do Douro a tentar marcar uma posição no Baixo-Corgo. A Casa da Réssa foi criada pelo vigneron Alexandre Dias e tem três vinhos, um deles já Grande Reserva.

Foi no ambiente exclusivo do JNcQUOI Club Asia, em Lisboa (com jantar de paiirng incluído), que a Casa da Réssa se apresentou a um conjunto de jornalistas e sommeliers. Com enologia de Paulo Nunes, esta pequena produtora (cada vinho tem cerca de três mil garrafas) nasceu nas encostas da Folgosa, com um terroir dominado por vinhas velhas.

«Este é um território que pede silêncio. Quando se chega ali, percebe-se que é preciso mais escutar do que fazer», disse Alexandre Dias, na sessão de apresentação do trio de vinhos com que a Casa da Réssa entra no mercado: o objectivo é marcar presença em «garrafeiras e restaurantes de topo».

O nome — Réssa — é, em si, um manifesto, comum no Douro e no Minho para designar ‘réstia’, neste caso do Sol, que “toca” nas vinhas ao final da tarde. «Foi esta luz que vi quando encontrei a Vinha das Lages. Uma luz quente e tímida, mas com uma força que me tocou», recordou o vigneron.

©Casa da Réssa | Douro
©Casa da Réssa

A primeira aquisição de Alexandre Dias na região foi precisamente a Vinha das Lages, em 2019, mas o projecto rapidamente ganhou mais dimensão com a compra da totalidade da Quinta da Médica, um conjunto de parcelas em altitude com «castas tradicionais e uma diversidade rara» (aliás, o vinho esteve mesmo para se chamar Quinta da Médica).

Segundo Paulo Nunes, a produção não devia começar tão cedo, mas uma conversa informal mudou o rumo da Casa da Réssa. «Estávamos à mesa, no DOC, com o chef Rui Paula, e surgiu a pergunta: ‘E se fizéssemos vinho este ano?’. Num mês e meio pusemos uma adega a funcionar — arranjámos tudo: desengaçador, prensa, bomba, sistema de frio. Não houve tempo para hesitar».

O resultado foram os Reserva Branco 2022, Reserva Tinto 2021 e Grande Reserva Tinto 2021 (pode ver as notas de prova e pairing no jantar, mais abaixo), que chegam ao mercado com preços de 47 (para os dois primeiros) e de 87 euros, e que podem muito bem ser os novos “supervinhos” do Douro. Mas a produção também assenta numa… “réstia” de uvas, uma particularidade rara no panorama duriense: a possibilidade de fazer vinho do Porto como alternativa à produção de DOC Douro.

©TRENDY Report | Alexandre Dias
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«Se tivermos uvas que passaram o ponto ideal de maturação, transformamos esse excesso num Porto. É a grande vantagem: podemos adaptar-nos à vinha e ao momento. Falhar dois ou três dias uma parcela quer dizer que vamos fazer Vinho do Porto — e isso dá uma liberdade enorme à abordagem que temos», contou Paulo Nunes.

A génese do projecto está, aliás, nessa ideia de selecção e valorização: «Até agora, estas vinhas acabavam num lote anónimo. O que estamos a fazer é isolá-las para que cheguem ao consumidor com a sua identidade própria», explicou o enólogo. «Temos vinhas nobres e diferenciadoras, que merecem ser “ouvidas”. É isso que tentamos fazer com cada vinho: deixar a vinha “falar”».

Para já, fica a ideia de que este é um projecto vínico que aposta mais na identidade que na escala e mais na emoção do que no desempenho de mercado: «Para mim, fazer vinho não é um negócio, é uma forma de estar. A Casa da Réssa é, acima de tudo, uma carta de amor à terra», resume Alexandre Dias.

Notas de prova e pairing no jantar de apresentação

Casa da Réssa Reserva Branco 2022
Com origem em vinhas velhas de altitude e uma conjugação rara de castas (Fernão Pires, Verdelho, Rabigato e Malvasia), este branco tem um nariz contido, com sugestões de flor branca seca, pedra lascada, casca de limão e ligeiras notas fumadas, resultado do estágio parcial em barrica.

©Casa da Réssa | Branco
©Casa da Réssa

A acidez firme (6 g/l) e o pH baixo (3,17) traduzem-se numa prova vibrante, com textura fina e um final salino que persiste longamente. «É um vinho que promete crescer em garrafa e que vai ficar muito melhor daqui a dez/quinze anos», avisou Paulo Nunes.
Pairing: Lâminas de Peixe Marinado com Citrinos e Caviar.

Casa da Réssa Reserva Tinto 2021
Este Reserva Tinto caracteriza-se por uma presença marcada da Tinta Barroca (30%), o que se reflecte numa cor mais aberta e numa estrutura menos centrada no tanino. A Touriga Nacional e a Touriga Franca dão-lhe frescura uma sugestão floral – foi mesmo o nosso preferido desta prova.

©Casa da Réssa | Res Tinto
©Casa da Réssa

Na boca, apresenta-se leveza, pela fluidez e por uma boa harmonia entre fruta vermelha fresca, ervas secas e notas subtis de barrica bem integrada. A acidez equilibrada (5,6 g/l) e o álcool moderado (13,5%) tornam-no gastronómico e convidativo.
Pairing: Risotto de Bacalhau

Casa da Réssa Grande Reserva Tinto 2021
Nascido entre os quatrocentos e os quinhentos metros de altitude e oriundo de vinhas velhas em field blend — onde predominam castas como Tinta Barroca e Tinta Carvalha — este Grande Reserva é o vinho «mais ambicioso» da Casa da Réssa.

©Casa da Réssa | G Res Tinto
©Casa da Réssa

Vinificado com engaço e envelhecido exclusivamente em barricas novas de quinhentos litros durante dezoito meses, tem apontamentos de especiarias doces, folha de tabaco, cereja preta e um leve traço balsâmico. Na boca mostra-se amplo e estruturado. O uso total de barrica nova está presente, mas bem “casado” com a fruta e a rusticidade da vinha velha.
Pairing: Pintada Assada com Morilles à La Créme

Começou no jornalismo de tecnologias em 2005 e tem interesse especial por gadgets com ecrã táctil e praias selvagens do Alentejo. É editor do site Trendy e faz regularmente viagens pelo País em busca dos melhores spots para fazer surf. Pode falar com ele pelo e-mail [email protected].