A BYD volta a lançar um aviso à concorrência, desta vez com o Sealion 7. Este SUV coupé 100% eléctrico põe em sentido o Tesla Model Y, tal como o Seal pôs o Model S.
Com 4,83 metros de comprimento, linhas desportivas e uma silhueta que nos faz lembrar o Lamborghini Urus, este modelo da marca chinesa raramente passou despercebido durante os quase cinco dias que o conduzimos.
Houve sempre alguém a virar o pescoço para ver este BYD que raramente é identificado nas estradas nacionais, em sentido contrário ao que acontece, por exemplo, com o Atto 3. E até podemos encontrar explicações para isto: “saias” traseiras vincadas, um spoiler na bagageira e uma frente agressiva fazem deste SUV um automóvel imponente que parece ser mais caro que o que realmente é (custa 56 490 euros).
Conduzimos a versão Excellence AWD, a mais equipada da gama, com uma potência total de 530 cv (até parece que estamos perante um superdesportivo), bateria de 91,3 kWh e uma autonomia anunciada de 500 km. A verdade é que os consumos registados — 25,2 kWh/100 km — deixam claro que um pé mais pesado reduz significativamente a promessa da BYD.
Gostávamos de ter visto a marca ir mais longe (literalmente), com uma autonomia na casa dos 600 km ou mais, até porque o Sealion 7 é um daqueles modelos que convidam a viagens longas. A explicação para este nosso pedido é simples: o conforto é um dos seus trunfos.
Este foi mesmo o automóvel mais confortável que conduzimos em 2025 e, sem dúvida, o melhor da BYD. Tanto à frente como atrás, o ambiente é o de uma sala de estar — os bancos dianteiros dão uma boa posição de condução e têm vários níveis de ajuste, incluindo na zona lombar e no apoio para as pernas, no lado do condutor.
O do passageiro tem apenas ajuste em altura e inclinação, mas ambos são aquecidos e ventilados. Os materiais estão, igualmente, num bom nível: em pele, com texturas suaves nas portas, no tablier e com boa atenção aos acabamentos. No Sealion, ao contrário do que, infelizmente, acontece em algumas zonas marítimas, não há plásticos ou soluções de baixo custo a “poluir” este leão-marinho.
Atrás, os passageiros também têm bancos aquecidos (algo raro no segmento) e um apoio de braço com suportes para copos/garrafas, além de duas entradas USB-C. Durante os testes, os nossos amigos resumiram bem a experiência: «Estamos a tentar encontrar defeitos e não conseguimos».
O espaço é generoso para pernas e ombros, mesmo com três pessoas a bordo: «Apetece dormir» — esta foi outra das conclusões usadas por quem se sentou atrás. Mais: se o tejadilho panorâmico estiver totalmente aberto, contribui para o ambiente luminoso a bordo e aumenta a sensação de espaço.
De volta ao cockpit, temos o já habitual ecrã rotativo que se tornou uma imagem de marca da BYD (aqui, com 15,6 polegadas). Contudo, perdemos (e mal) o botão físico no volante para mudar a orientação do ecrã, algo que acontece no Seal, Seal U e Atto 3. Assim, apenas temos um comando digital, na base do ecrã.
O que continua a estar furos abaixo da concorrência é a interface que a marca aplica ao sistema de infoentretenimento: os menus mantêm-se extensos e algo labirínticos, com dezenas de opções de personalização. Desligar os alertas de condução é particularmente penoso, não havendo qualquer atalho, botão físico ou opção imediata para o fazer.
Para piorar, estes alertas são intrusivos, com mensagens vocais de fraca dicção em português e que se sobrepõem à música. Felizmente, é possível desactivá-los no menu ‘Notificações’ > ‘Veículo’, sendo que há a certeza de que continuam desligados entre sessões de condução, ao contrário do que acontece com os alertas ADAS.
Outro ponto que pode dividir opiniões é a eficácia da câmara inteligente no pilar B, que analisa o nosso comportamento ao volante. Bocejar, fechar os olhos ou olhar demasiado tempo para o ecrã, são suficientes para gerar alertas sonoros e gráficos. A segurança é importante, como é óbvio, mas a sensibilidade-padrão aplicada pela BYD é exagerada.
A marca continua a resistir ao minimalismo: há onze botões físicos na zona inferior (selector de condução, volume, start/stop, desembaciamento, entre outros) — apesar de ser visualmente mais carregado, dá-nos uma série de atalhos úteis que, por vezes, parecem faltar noutros modelos.
Uma das soluções mais inteligentes da consola central é a bandeja de carregamento Qi de 50 W, com arrefecimento via AC, que mantém o smartphone fresco — esta é daquelas coisas de que não sabíamos de que precisávamos até a usarmos. Ao lado, existe outra base, que não carrega, mas que serve para associar uma chave virtual ao telefone.
Contudo, também seria interessante ter aqui carregamento wireless, ainda que mais lento, como cortesia para o passageiro da frente. Em termos de arrumação, há espaço generoso sob o apoio de braço dianteiro, mas o design ‘tipo ponte’ da consola dificulta o acesso à zona de arrumação inferior, onde se encontram duas entradas USB-C e uma tomada de 12 V.
O painel de instrumentos segue a linha visual da marca, com muita informação — continuamos a dizer que é demais. Era urgente a BYD rever esta abordagem, pois apenas serve para nos confundir e distrair. Ainda assim, a representação da estrada em tempo real com o Sealion em destaque e os outros veículos detectados pelos sensores é bastante apelativa.
No volante estão funções pouco habituais, como um botão que activa a vista 360° com imagem superior do automóvel, à esquerda, onde também ficam os de cruise control. Do lado direito, temos os acessos de multimédia, a chamadas e ao assistente virtual BYD — aqui, tudo está bem dividido e os comandos são bastante intuitivos.
Finalmente, há mais um detalhe tecnológico curioso, de que gostámos particularmente: se tivermos o vidro aberto, este fecha de forma automática ao ligar o AC ou quando aumentamos a velocidade.
No geral, o BYD Sealion 7 impressiona pelo conforto, nível de equipamento, qualidade interior e atenção ao detalhe. A isto, junta-se uma condução segura e dinâmica, quer em auto-estrada, quer em estradas secundárias, por onde passam sempre os nossos testes. No fundo, dá a sensação de que este automóvel quer ser SUV, desportivo, e familiar ao mesmo tempo – e, de facto, consegue.
Contudo, há alguns pontos que podiam ser melhorados: os consumos em auto-estrada, a autonomia e os alertas intrusivos. Estes detalhes menos conseguidos limitam o que poderia ser uma experiência sem espinhas, naquele que foi o melhor BYD que já conduzimos.