Há automóveis que são apenas meios de transporte, para ir do ponto A ao ponto B. E depois há o novo Renault 5 E-Tech – este não é apenas um modelo que compramos para andar, mas sim para desfrutar.
O retro-futurismo tem sido mais ou menos usado pelas marcas de automóveis para voltar a conquistar clientes e oferecer uma opção que não seja apenas mais uma. E, verdade seja dita, a Renault tem sido a que mais tem contribuído para que conduzir volte a ser mais que aquela coisa chata de andar de um lado para o outro, muitas vezes no pára/arranca ou a dar voltas e voltinhas fugir ao trânsito.
Não é preciso estar muito tempo ao pé de um 5 E-Tech para perceber o magnetismo e o carisma que sai do chassis deste automóvel francês que se inspira nas linhas do clássico 5, que a Renault produziu entre 1972 e 1985, com umas pitadas do modelo Turbo.
A traseira hatch inclinada e a forma das ópticas são o que liga esta versão 100% eléctrica à original, com a Renault a ter levado o estilo retrofuturista ao extremo. É muito fácil perceber por que é que este E-Tech tem eestado a ser um sucesso e a vontade que nos dá é de o levar para casa e deixá-lo estacionado em exposição na sala de estar, como se fosse um modelo da Burago.
Além das marcas que remetem para os anos setenta/oitenta, também há apontamentos deliciosos, como o “ecrã” integrado no capot, onde no original existia uma entrada de ar. Este pequeno painel LED mostra o número ‘5’ com barras iluminadas consoante o nível de carga — é um toque estético e prático que encaixa perfeitamente no espírito deste modelo.
No interior, temos um espaço razoável para quatro ocupantes (idealmente não muito corpulentos) e bancos “verdes”: os estofos usam tecidos 100% reciclados em «estilo jeans», diz a Renault, e são bastante confortáveis. O tejadilho tem também uma textura almofadada, tal como o tablier e os painéis dianteiros das portas; atrás, o plástico duro contrasta com esta abordagem.
O posto de condução é dominado por dois ecrãs bem dimensionados, com o de infoentretenimento ligeiramente orientado para o condutor — uma abordagem de que somos fãs, pois mostra que há uma preocupação suplementar com o seu conforto.
Aqui, o sistema OpenR Link, com serviços Google integrados (incluindo o Assistente), é dominado por gráficos apelativos, animações contextuais e funcionalidades práticas que se juntam a outras mais lúdicas: exemplo disso é o assistente virtual Reno (um logo animado da Renault), que nos dá as boas-vindas e se despede após cada viagem.
Este assistente pode ser lançado por voz ou por botão, e permite controlar funções como a climatização, a navegação ou a selecção dos modos de condução: ‘Eco’, ‘Comfort’, ‘Sport’ e um modo personalizado. Ou seja, o Reno está mais direccionado para ser uma espécie de concierge do 5 E-Tech, enquanto o Assistente Google pode ser mais usado com as apps do sistema, como os Mapas.
Como é hábito na marca francesa, há detalhes práticos bem pensados. Na consola central temos entradas USB-C, uma bandeja de carregamento Qi inclinada (que facilita a visualização do smartphone e não o esconde totalmente, embora haja Car Play e Android Auto), espaços para copos ajustáveis e um compartimento generoso sob o apoio de braço.
No topo do ecrã central, encontramos botões físicos para o volume e para desligar o ecrã (que já tínhamos visto no Captur Bi-Fuel e de que não somos 100% fãs), enquanto o ar condicionado tem uma linha dedicada de controlos físicos. É o que basta para manter o equilíbrio entre minimalismo e acesso fácil às principais funções.
A experiência de condução é uma clássica dualidade: em modo ‘Eco’, o Renault 5 é mais suave e poupado, ideal para o trânsito urbano; em ‘Sport’, transforma-se num pocket rocket, com os seus 150 cavalos a ganhar vida com base numa resposta do acelerador imediata, ao ponto de nos colar ao banco. Resultado: o consumo médio durante o ensaio ficou nos 11,5 kWh/100 km.
Contudo, há uma coisa que não nos caiu mesmo no goto: atrás do volante, à direita, o selector de marcha está demasiado elevado e entra em conflito com os comandos do limpa pára-brisas — por vezes ligámos as escovas quando queríamos fazer marcha-atrás ou arrancar com o E-Tech.
A câmara traseira poderia ter melhor definição, algo que também já tínhamos apontado ao Captur. Fora isto, não há reparos a acrescentar a esta zona: o volante tem comandos bem organizados (apesar da ausência de separação física – algo que, no Opel Grandland, foi um ponto negativo), e o botão Multi-Sense está bem colocado e permite alterar os modos de condução rapidamente.
Nesta versão, a música também foi muito bem tratada pela Renault, com um sistema de som premium Harman Kardon (um extra de 600 euros) que está à altura do ambiente deste automóvel. A sensação futurista é completada pelo som etéreo que acompanha a circulação a baixa velocidade — quase como se estivéssemos ao volante de uma nave espacial.
A versão que conduzimos, a Techno (que é a base), vinha com vários extras, como a cor verde Pop com tejadilho em preto e linha vermelha, o já mencionado sistema Harman Kardon, o pacote full ADAS (assistências à condução) e até uma funcionalidade de estacionamento automático.
Tudo isto fez subir o preço dos 33 mil aos 36 100 euros, o que, para a experiência que tivemos, acaba por ser um valor ajustado. É preciso não esquecer que o Renault 5 E-Tech é tudo menos um automóvel para ir do ponto A ao ponto B – é uma declaração de estilo, uma homenagem bem conseguida ao passado e um vislumbre do futuro, que também se faz com o novo Renault 4.