«A nova versão do Duster está muito bonita, não está?» — foi com esta frase, dita por uma operadora das portagens da A5, que começou o nosso ensaio ao renovado SUV da Dacia.
A mais recente geração do Duster não parece deixar ninguém indiferente e, mal saímos das instalações da Renault, com destino a Lisboa, percebemos que o visual mais agressivo e sólido deste modelo iria conquistar fãs, algo que dificilmente se poderia dizer das suas primeiras versões.
O Duster é, hoje, um exemplo claro da evolução da Dacia. Se antes era apenas um SUV sem grande carisma, hoje tem uma identidade forte, com linhas rectas e marcantes que lhe conferem uma aparência robusta, quase militar, que se destaca. Esta transformação reflecte-se também nos outros modelos da marca, como o Jogger e o Sandero (este último, o automóvel mais vendido em Portugal, no ano passado.)
Para teste, a Renault cedeu-nos a versão Extreme 4×2 com motor TCe de 130 cv, apoiado por um pequeno motor eléctrico alimentado por uma bateria de 48 V. Como é habitual em todos os modelos do género, o sistema Mild Hybrid ajuda nas fases de maior exigência energética e permite reduzir consumos — conseguimos uma média real de 5,9 l/100 km num percurso de cerca de 250 km, com uma condução pouco poupada (a Dacia fala num consumo combinado de 5,5 l/100 km, pelo que o nosso resultado está na casa dos que a marca anuncia).
A sensação de solidez é uma constante, dentro e fora do carro. A carroçaria transmite confiança, uma percepção que se mantém quando nos sentamos ao volante: o para-brisas compacto e as nervuras bem vincadas no capot aumentam a sensação de estarmos ao comando de um verdadeiro carro de combate. A condução é estável, mesmo em pisos mais irregulares, e há funcionalidades úteis como o controlo de velocidade em descida, o indicador de ângulo de inclinação e de subida/descida, e ainda uma bússola — elementos simples mas eficazes, visíveis tanto no painel de instrumentos como no principal.
Por falar em ecrãs, o painel de instrumentos totalmente digital não está tão bem conseguido como noutros modelos da casa Renault: falta-lhe aproveitamento lateral, dado que há apenas barras horizontais coloridas que deixam um pequeno vazio. Ainda assim, o centro do painel mostra gráficos úteis sobre o consumo em tempo real, o fluxo de energia entre o motor e a bateria, o gráfico Eco (para vermos como estamos a conduzir, em termos energéticos), e a posição do Duster na via.
O interior é dominado por plásticos duros, mas que não destoam do conceito do Duster: há um aspecto funcional e quase militar, que reforça o ADN deste SUV. A consola central é bem aproveitada, com espaço para pequenos objectos, uma bandeja com carregamento sem fios para o telemóvel, duas saídas USB-C, uma tomada de isqueiro e uma prateleira superior estreita. Há ainda duas bases para copos/garrafas e um compartimento fundo debaixo do apoio de braço. Atrás, os passageiros também têm duas portas USB-C, o que nos surpreendeu.
O ecrã de infoentretenimento (com sete polegadas) é secundado por botões físicos apenas para o ar condicionado, organizados numa fila por baixo das saídas de ar centrais. Entre os detalhes de que gostámos, temos a forma como inicia a a interface do ecrã principal: mostra o mesmo padrão de linhas topográficas que encontramos nos tapetes de borracha (um extra de 63 euros). Já que falamos nisto, é preciso dizer que esta é uma solução prática para quem gosta de sujar os pés (à boleia do espírito off road do Duster) e não quer ter de estar a lavar ou aa aspirar os habituais, em tecido.
Apesar de a experiência com o sistema multimédia principal ser, no global, boa (menus bem organizados, gráficos apelativos q.b. e fluidez de navegação), continuamos a não gostar da qualidade da câmara de marcha-atrás, que, como no Captur e no 5 E-Tech, continua a ter uma qualidade de imagem abaixo da média. Isto é mesmo algo que gostávamos de ver a Dacia/Renault a melhorar num futuro facelift.
O computador de bordo do Duster, tal como já tínhamos experimentado no 5 E-Tech, também atribui um Eco Score à nossa condução, com uma pontuação até 100 pontos. Isto ajuda-nos a perceber se estamos a tirar o melhor partido da motorização híbrida e/ou a usar o acelerador de forma eficiente – conseguimos 86 pontos, na nossa última viagem.
Um dos elementos mais criativos está nos acessórios YouClip — uma série de pontos de encaixe espalhados pelo habitáculo e bagageira. São sete no total: dois à frente (um ao lado do ecrã, onde já estava um suporte para telemóvel; e outro na consola central, do lado do passageiro), um na consola traseira (na zona das saídas USB-C), dois dentro da bagageira e um na porta da mala. Neste último, colocámos um gancho que pode, por exemplo, servir para prender um chuveiro portátil, uma boa ideia perfeita para campismo ou depois de uma sessão de surf.
Estes acessórios são todos comprados à parte: na altura de configurar o Duster, podemos escolher vários, entre estes um suporte para tablets, para copos ou um com uma bolsa. Os que já estavam nesta versão era o suporte para smartphone (25 euros) e o gancho (17 euros) – os outros têm preços entre 21 e 60 euros.
A esta lista de extras, juntou-se o Pack Techno (travão de estacionamento eléctrico, navegação com dados de trânsito, sistema de som 3D Arkamys com seis altifalantes e o carregador Qi), por 650 euros; jantes de liga leve de dezoito polegadas semi-diamantadas (300 euros); e a pintura Sandstone (500 euros), que lhe dá um ar de SUV para o deserto.
Este novo Duster inaugura um novo capítulo para a marca: é o melhor look de todas as gerações Duster. A motorização TCe Mild Hybrid pareceu-nos bastante competente, a que se junta um óptimo leque de soluções práticas (o sistema de YouClip é dos recursos mais inteligentes que vimos este ano em automóveis).
Assim, este automóvel está mais perto que nunca de ser o SUV ideal para quem quer aventura, conforto, recursos modulares, tudo “embrulhado” num design que lhe dá um ar sólido, com um preço acessível: mesmo bem carregado de extras, o preço final fica abaixo dos 26 mil euros.