Até agora, os modelos C3 da Citroën – um dos utilitários mais populares nas estradas nacionais – eram automóveis sem aquele ‘zing’. Mas isto vai mudar com este novo formato.
Quando a Citroën meteu um exército de novos C3 a acelerar por Versalhes na num ambiente que faz lembrar a corte de Luis XVI e Maria Antonieta, tornou-se óbvia a mensagem da marca francesa: era preciso haver uma revolução, neste caso na mobilidade eléctrica.
Só o tempo vai dizer que esta revolução se vai sentir nas estradas nacionais, com mais um automóvel a prometer a democratização neste mercado: são 23 300 euros para começar, mas a versão mais completa também não fica muito mais acima, dado que a Max custa 25 600 euros.
Com uma autonomia até 300 km e uma potência de 113 cavalos, o ë-C3 não só garante uma condução eficiente q.b. como também permite carregamentos rápidos de 20% a 80% em apenas 26 minutos. Num mercado em que os veículos eléctricos ainda são vistos como um luxo (lá está, a corte de Luis XVI), a Citroën aposta numa estratégia que combina simplicidade e carácter.
O novo ë-C3 é mais do que uma simples versão electrificada do modelo tradicional: é um automóvel pensado para quem quer aderir à mobilidade eléctrica sem abdicar do conforto, bons materiais e de equipamentos intuitivos a bordo. O formato mini-SUV é o indicado para começar esta nova era do C3, resta saber como é que será o embate com outro modelo que também promete causar estragos na entrada de gama eléctrica: o Hyundai Inster.
O interior do ë-C3 reflecte a filosofia da Citroën: simplicidade com um toque de criatividade. Detalhes como as mensagens estampadas nas portas – ‘Feel good’, ‘Be happy’, ‘Be cool’ e ‘Have fun’ – reforçam o carácter divertido do modelo e contribuem para um ambiente mais descontraído. De resto, o habitáculo é dominado por materiais que nos transmitem qualidade.
Apesar de ser um modelo acessível, a sensação a bordo está longe de ser espartana: a marca deu-lhe um toque de sofisticação pouco comum nesta categoria. E aqui, também entram detalhes como os avisos sonoros: no ë-C3 remetem para efeitos de jogos electrónicos dos anos oitenta, introduzem uma nota lúdica sem se tornarem incomodativos. Durante a condução, nunca sentimos a necessidade de os desligar, por causa disto mesmo.
Ao contrário de outros automóveis que testámos ao longo do ano passado, onde os apitos nos deixavam próximos de um ataque de nervos, os do ë-C3 continuam a cumprir a missão de nos avisar para os excessos, mas de uma forma muito razoável. E para os desligar, não é preciso andar a navegar por entre menus labirínticos: basta tocar num botão que fica à esquerda do volante.
O sistema de infoentretenimento é bastante minimalista e vai directo ao assunto: aqui, não há menus confusos ou uma avalanche de opções. O ecrã inicial mostra a informação da rádio ou playlist, bem como a navegação e percebe-se que foco está na conectividade com o smartphone, através de Apple CarPlay e Android Auto, sem fios. Nos ajustes, encontramos apenas as opções essenciais, como brilho do ecrã, equilíbrio do som e gestão de dispositivos emparelhados.
Um detalhe interessante (apesar de não ser um exclusivo da Citroën, dado que se pode encontrar noutros modelos) é a pequena saliência no ecrã central, que permite apoiar os dedos ao navegar na interface, uma solução simples mas eficaz que melhora a ergonomia.
Ergonomia é uma palavra que também fica bem associada ao volante: no ë-C3 adopta um formato mais quadrangular, com os controlos de som à direita e os de cruise control à esquerda – tudo como manda a tradição. Contudo, mão podemos dizer o mesmo do apoio de braço dianteiro: poderia ser muito melhor, uma vez que a sua posição dificulta tanto o descanso do cotovelo, como o acesso ao compartimento de arrumação.
No painel de instrumentos, a informação apresentada é essencial, mas faltam dados importantes como os consumos – andámos a “escavar” os (poucos) menus deste modelo para tentar perceber quanto é que o ë-C3 estava a gastar, mas nunca conseguimos. A Citroën optou por um layout minimalista, onde podemos visualizar a autonomia, a percentagem de bateria e a velocidade, além de um gráfico que indica se a condução está a ser eficiente com os níveis ‘Charge’, ‘Eco’ e ‘Power’.
No que respeita a botões físicos, temo-los concentrados no centro do tablier e servem apenas para controlar a climatização, a recirculação do ar e o desembaciamento. O selector de marcha é um manípulo cromado semelhante ao do Peugeot 3008, contando com a opção ‘C’ que melhora a recuperação de energia em travagem.
Curiosamente, o e-C3 não conta com um botão Start/Stop, obrigando o condutor a recorrer ao método tradicional: inserir a chave na ignição e girar, o que dá um toque old-school à experiência, algo que já tínhamos ressalvado no texto sobre as primeiras impressões deste modelo. No “departamento” da conectividade, ë-C3 oferece apenas ligações USB-C (para quem viaja à frente e a trás), além de uma base Qi para carregamento por indução.
Como acontece com quase todos os modelos recentes, há uma app que permite gerir e ver vários dados dos automóveis. A da Citroën disponibiliza dois planos de conectividade para o ë-C3: o Connect Plus (gratuito durante nove meses, permite agendar carregamentos, verificar a autonomia e activar remotamente o ar condicionado); e o Connect One, (alerta para necessidades de manutenção). Para quando fizermos viagens longas, a app e-Routes pode auxiliar na planificação de trajectos com pontos de carregamento estrategicamente distribuídos.
O Citroën ë-C3 chega ao mercado com uma proposta clara: tornar a mobilidade eléctrica mais acessível e pragmática, apenas sendo “ultrapassado” pela proposta-canhão do Dacia Spring, ainda que não se possa considerar um automóvel da mesma gama. A autonomia de 300 quilómetros é suficiente para a maioria dos percursos diários e a capacidade de carregamento rápido minimiza as preocupações com tempos de paragem.
Com um design descontraído, uma abordagem minimalista ao infoentretenimento e um habitáculo confortável, o Citroën ë-C3 modelo é uma aposta sólida para quem quer um eléctrico acessível, sem abdicar de equipamento que dá uma experiência mais completa.
Resta saber se os 300 quilómetros de autonomia vão ser suficientes para conquistar o público, mas uma coisa é certa: com o ë-C3, a Citroën tem uma presença de peso no segmento dos utilitários eléctricos com uma proposta diferenciadora e que se pode tornar rapidamente num caso sério de vendas. Os pedidos de test-drive podem ser feitos no site da marca.