NOS Alive em português: os Girls96 continuam a passar-se, os Baleia Baleia Baleia continuam inconformados e Iolanda continua a arder

Mesmo num palco secundário e com apenas sete músicas, os Girls 96 confirmaram-se como uma das propostas mais ousadas da nova pop feita em Portugal.

©TRENDY Report | Girls96
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O Palco Coreto do NOS Alive continua a ser uma espécie de oásis, num festival que continua (e bem) a dar um bom destaque a nomes emergentes.

DESTAQUE DO DIA: GIRLS96

Paloma Moniz e Ricardo Gonçalves já passaram pelo Damas, Lounge ou Musicbox e, em 2024, ganharam o prémio ‘Revelação’ dos FuturAwards. A entrada para o roster do NOS Alive é o culminar de um ano em que os Girls96 tiveram uma mini-ascenção meteórica.

No Palco Coreto, a dupla de electroclash confirmou aquilo que já tinha mostrado em salas mais pequenas, agora numa dimensão que começa a ser aquela que a banda merece, mas o concerto soube a muito pouco – foram apenas sete músicas debitadas em meia hora.

©TRENDY Report | Girls96
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Com uma estética que soa a honestidade cheesy e blasé, o duo português levou para Algés uma sessão de pop electrónico vibrante, feita de sintetizadores pulsantes, beats progressivos, com as vozes de Paloma e Ricardo a andar entre a indiferença e a obsessão.

A abrir esteve ‘Circos’, faixa que serviu como convite imediato para entrar neste ritual de fim de tarde. O Palco Coreto transformou-se num microclube ao ar livre com o ponto alto a chegar com ‘Ainda Importa’, o hino do duo, com direito a coro da audiência: «Estou-me a paaaaaassar».

Seguiram-se ‘Superstar’, mais um single recente dos Girls96 e ‘Ficas no Chão’, onde Ricardo e Paloma se revelam como dupla imparável e que nos dá um murro suave no estômago. Mesmo num palco secundário e com apenas sete músicas, os Girls 96 confirmaram-se como uma das propostas mais ousadas da nova pop feita em Portugal.

TAMBÉM VIMOS: BALEIA BALEIA BALEIA


Os Baleia Baleia Baleia protagonizaram uma sessão de descarga de energia e crítica social num concerto que se destacou pela urgência das palavras e pela intensidade. A dupla formada por Manuel Molarinho (baixo e voz) e Ricardo Cabral (bateria) deu razão a quem os mete na caixinha das bandas mais irreverentes do rock nacional.

O concerto abriu com ‘Quero Ser um Ecrã’, tema que teve no meio uma surpresa: a cover de ‘Apocalipse’ dos Conferência Inferno. Seguiu-se ‘NPC’, uma faixa inédita do próximo disco, que atira contra a apatia generalizada: «Contra as pessoas passivas e a passividade», gritou Manuel Molarinho.

Na verdade, a actuação dos Baleia Baleia Baleia foi uma crítica feroz à sociedade do imediatismo e do consumo rápido de conteúdos, da televisão ao smartphone. A dada altura, Manuel Molarinho desabafou: «Já não romantizamos, já não utopiamos – estou chateado, não sei com quem, mas estou chateado!».

©TRENDY Report | Baleia
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Num tom entre a provocação e o sarcasmo, lançou ainda: «Como vocês não nos conhecem, vamos tocar os singles que passam na rádio». E foi assim que chegaram a ‘Egosistema’, tema em que a banda critica o foco excessivo no eu, sem espaço para o altruísmo. Já perto do final, houve lugar para mais uma estreia: ‘Sobreestimulados’, outro tema com um olhar mordaz sobre os tempos modernos.

A recta final fez-se com um trio de músicas que “incendiaram” o Palco Coreto: ‘E se o Diabo Quiser’ e ‘Interdependência’, com ‘Venham as Máquinas’ a servir de manifesto: «O homem não nasceu para trabalhar, mas para ser um poeta à solta». Mesmo num palco marginal, os Baleia Baleia Baleia provaram que o rock nacional continua a ter pulso, ruído e muito para dizer – sobretudo, crítica social.

E TERMINÁMOS COM: IOLANDA


Foi na antecâmara do concerto de Olivia Rodrigo que Iolanda, a representante de Portugal na Eurovisão 2024, encheu por completo o Palco Clubbing do NOS Alive. Vestida de noiva, a promessa era clara: casar-se com o público numa cerimónia de partilha intensa, onde cada música foi um voto de entrega emocional. E o público disse ‘Sim, aceito’, sem hesitar.

A abrir esteve ‘Calma’, single de 2024 que acabou por marcar o ritmo de toda a actuação. «Estava muito nervosa, mas vocês deram-me boas vibes», disse logo a seguir para quebrar o gelo – que, na verdade, não chegou a existir.

Em temas como ‘Olho Para Baixo’ e ‘Choro’ mostraram a vulnerabilidade lírica de Iolanda: ‘Sem saber como explicar/Eu deixo-me levar’. Com ‘Para Sermos 1’ vieram também as lanternas dos smartphones, para iluminar uma balada sobre separação e resistência: ‘Diz-me se já saraste por cima das minhas feridas / Nem que tu voltasses / Tu ias perceber’.

©TRENDY Report | Iolanda
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A viagem emocional seguiu pela ‘Cura’, com Iolanda a lembrar: ‘E quem, quem, e quem quiser entrar / Vai ter que amar comigo à toa’. E o público entrou e ficou para um dos aplausos mais fortes da noite: Carolina Deslandes subiu ao palco para um dueto em ‘Tento na Língua’. «É uma das pessoas mais importantes para mim», disse Iolanda.

Para a recta final estava guardado ‘Grito’, o tema que a levou ao palco da Eurovisão. «Esta foi uma canção que mudou a minha vida e esperava que mudasse», disse, antes de se entregar ao público e terminar com ‘Laurinda’. Neste concerto a “ferver”, ficou a certeza: Iolanda ‘ainda arde, ainda arde’ — e vai continuar a arder.

Começou no jornalismo de tecnologias em 2005 e tem interesse especial por gadgets com ecrã táctil e praias selvagens do Alentejo. É editor do site Trendy e faz regularmente viagens pelo País em busca dos melhores spots para fazer surf. Pode falar com ele pelo e-mail [email protected].