Temos de falar sobre o novo jingle da Mokambo…

A música alegre da Mokambo é, facilmente, o jingle mais famoso e bem disposto dos anos 90. Em 2017, foi mudado e a pergunta é: em que funeral é que a marca quer passar a servir o seu café com cereais?

«Diga Bom Dia com Mokambo, Mokambo, Mokambo…» é um dos mais conhecidos jingles de sempre da publicidade feita em Portugal, expressão usada até como frase feita por algumas pessoas, no dia-a-dia.

A verdade é que os anúncios que a marca colocou a rodar na TV, durante os anos 90, se tornaram num ícone da publicidade e fazem parte de vários livros de memórias e posts de sites que têm o revivalismo como tema principal.

O guião era simples e a ideia passava imediatamente: uma família saboreava um pequeno-almoço com uma mesa bem composta, sorrisos na cara e, claro, uma caneca de mistura solúvel de café com cereais Mokambo.

A ideia a passar era de que as manhãs não precisavam de ser cinzentas e chatas, uma vez que o café Mokambo tinha o condão de trazer alegria a este momento do dia em que, por vezes, as pessoas estão com mau humor.

Pelo menos, é assim que todos aqui no TRENDY interpretamos os carismáticos anúncios Mokambo que nos acostumámos a ver na TV e cuja música transmite logo boa disposição – isto é o, por exemplo, que o blog Ainda Sou do Tempo também lembra.

Foi com pena, por isso, que vimos chegar o novo anúncio e o novo jingle da marca que, apesar de manter a letra, parece ser feito à medida de um funeral. Onde havia alegria, agora há melancolia, algo que é essencial numa comunicação deste género.

A música começa triste e calma, como se algo de muito mau se tivesse a passar no ecrã. Chega mesmo a ser inacreditável como é que uma letra destas pode ser diminuída e desqualificada com o ritmo sonoro do novo jingle. Alguém, aqui, é capaz de sentir a energia que as anteriores músicas transmitiam?


Veja o vídeo no canal de YouTube do TRENDY.



Segundo a Mokambo (marca da Nestlé, que também tem a Pensal), o tema não passava na televisão desde 1996. A razão para isto ter acontecido não é dada pela marca, mas talvez seja fácil de entender: o jingle era tão forte e ficou tão presente na cabeça dos portugueses que o marketing não teve de trabalhar durante duas décadas para que as pessoas se lembrassem de Mokambo.

De que outra marca de café solúvel se lembram, hoje em dia? Mokambo será, certamente, a primeira que vos vem à cabeça, talvez com Pensal. Esta música nova, pelo contrário, faz-nos rapidamente esquecer Mokambo como uma insígnia ligada à felicidade e boa disposição. Tal como Jorge Gabriel diz neste post no seu blogue: «Tenho saudades de ver este tipo de anúncios mais alegres».

Mas não é a alegria contagiante destes anúncios antigos que se vê em 2017. A própria acção do anúncio não tem nada que ver com pequenos-almoços (apesar de Mokambo ser uma bebida para qualquer período do dia, claro) ou qualquer outra coisa que nos deixe bem dispostos para iniciar as manhãs.

Nos 45 segundos que dura o novo filme, vemos uma rapariga a aproximar-se de uma garagem, que parece ser de uma casa que conhece; já lá dentro, a jovem destapa uma mota e começa a lembrar-se de passeios que fazia, quando era mais nova, com uma pessoa que parece ser o pai.

Não sabemos a altura do dia em que a acção decorre, mas depois de um flashback que mostra o tal passeio de mota, voltamos ao presente e vemos um homem mais velho a chegar com duas canecas e a oferecer uma delas à rapariga.

Enquanto isso, ouve-se o verso «o gosto bom dos cereais», que parece tão desconexo da letra, tal como a acção está da marca Mokambo. Em seguida, começamos a ver que a mota está a ser arranjada, com várias imagens em fade, tal como acontecia nos anúncios dos anos 90, sendo este o único elemento visual de ligação entre estes e o actual.

A rapariga vai bebendo da caneca enquanto o pai recupera a mota ao longo de um período de tempo que não sabemos quantificar, embora um dos planos mostre claramente que é de noite: vemos o clarão do ferro de soldar, de um ponto de vista exterior da garagem.

Já na parte final, outra vez de dia (ok, a restauração demorou uma noite, sempre a beber Mokambo) há um abraço entre os dois e a protagonista sai de cena, já montada na nova mota, acompanhada pelo homem, numa recuperação do flashback que tínhamos visto no princípio.

«Os melhores momentos são os que crescem consigo» é o copy que se ouve, entretanto. Ou seja, Mokambo é bom para beber ao fim da tarde, durante a noite quando se arranjam motas (ou memórias de infância: podia ser, por exemplo, um cavalinho de pau), mas de manhã, deixa de haver Mokambo, apesar de as canecas do anúncio terem escrito ‘Bom Dia’.

A contradição é tão evidente que, quando o dia nasce, já com a mota pronta, não se vê qualquer um dos dois a beber o objecto do anúncio, embora a frase final em voz-off seja: «Um bom dia começa sempre com Mokambo».

É verdade que até podemos concluir que há aqui alguma felicidade na cara de pai e filha, mas não porque isso seja provocado pela presença de Mokambo. O objecto, que era a peça central dos anúncios de há vinte anos é relegado para segundo lugar, sendo a história passível de ser contada com um sumo ou uma bebida alcoólica.

Este é um anúncio de restauração de motas, nunca de café, que talvez inspire os novos donos da Famel, que deve voltar às estradas já este ano.

Por aqui se vê que Mokambo não é mais que um mero acessório, enquanto na publicidade anterior era a justificação. E esse é o primeiro passo para que a marca comece a perder a identidade que, com algum carinho, os portugueses viram nela durante todos estes anos.


Veja o vídeo no canal de YouTube do TRENDY.



O novo Mokambo

Mokambo 2017
Este anúncio é assinado pela agência Ogilvy e estará presente na rádio, na imprensa e na TV. As versões disponíveis ao público, com imagem renovada, são a standard (cereais e 20% de café) e a Mokambo Intenso (cereais com 35% de café).

A Nestlé garante ainda que ambas as versões Mokambo «não contém gordura ou açúcares adicionais, além dos naturalmente presentes nos cereais», sendo ainda «fonte de fibra». Esta bebida solúvel de cereais e café conta ainda com o apoio da Associação Portuguesa dos Nutricionistas.

Começou no jornalismo de tecnologias em 2005 e tem interesse especial por gadgets com ecrã táctil e praias selvagens do Alentejo. É editor do site Trendy e faz regularmente viagens pelo País em busca dos melhores spots para fazer surf. Pode falar com ele pelo e-mail [email protected].