Crítica: A Rapariga no Comboio

Durante um ano, as expectativas em relação ao filme baseado no thriller A Rapariga no Comboio foram crescendo. Com Emily Blunt no principal papel, fomos descobrir como é que Tate Taylor passou para o grande ecrã o thriller best-seller de Paula Hawkins, num argumento a cargo de Erin Cressida Wilson.

Emily Blunt dá vida à perturbada Rachel Watson que tenta lidar com o fim do seu casamento com Tom Watson (Justin Theroux). Todos os dias, Rachel faz uma viagem de comboio, passando pelas casas dos subúrbios, onde magica histórias para os diferentes rostos que vê.

E é aqui que começa a grande diferença entre o livro e o filme: a localização da acção do filme. Se no original a viagem é feita entre Londres e Ashbury, no grande ecrã os produtores de Hollywood optam por uma viagem entre Nova Iorque e Hastings-on-Hudson.

Mas voltemos ao comboio. Nas suas viagens de comboio, Rachel passa pela sua antiga casa, onde actualmente o ex-marido vive com a nova mulher e a filha de ambos. Para compensar a dor, Rachel observa a casa dos vizinhos e imagina uma vida perfeita, o casamento perfeito – tudo aquilo que, basicamente, foi por água abaixo na sua própria vida.

Durante uma viagem, a protagonista vê algo de estranho, que altera a ordem das coisas, principalmente com o desaparecimento de Megan Hipwell, a tal mulher da vida perfeita.

Embora Emily Blunt esteja perto de irrepreensível, o espectador tem alguma dificuldade em conseguir vê-la como a mulher abatida, perdida e pouco em forma que sempre foi descrita no livro. Há algo que não encaixa, basicamente.

No entanto, o filme não deixa o livro ficar mal em muitas das situações relativas a Rachel, como a parte de conseguirmos criar empatia com uma personagem que é uma confusão ambulante.


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Porém, isso é algo que não acontece com as restantes personagens. Sim, é sabido que é impossível ter tanto tempo em cinema para descrever pormenores como aquele que existe nos livros. Mas a verdade é que o olhar dado às restantes personagens que compõem a acção é algo de muito superficial. Isso nota-se mais no contexto de Megan Hipwell – os flashbacks para perceber a história da personagem são demasiado breves e, em geral, mais focados nas vida sexual de Megan e menos no seu estado psicológico.

Por falar em estado psicológico: uma das situações mais ridículas deste filme acontece num consultório psiquiátrico. Os produtores acharam que seriam extremamente credível uma personagem chamada Kamal Abdic ter uma aparência latina e até falar espanhol.

Porquê? Ninguém sabe, já que a personagem original do livro é um psiquiatra da Bósnia, um refugiado da guerra dos balcãs, em nada ligado à comunidade latina. Outra coisa estranha no casting – a estrela Lisa Kudrow, a eterna Phoebe de Friends – dá vida a uma personagem que tem como função desbloquear um quebra-cabeças. Mas valerá mesmo a pena arranjar uma personagem à pressão para ter apenas duas cenas?

A Rapariga no Comboio não é, de todo, um mau filme: a fotografia não desilude e o argumento até consegue arranjar formas ardilosas de conduzir a história.

Para quem sofre com falhas de lógica nos filmes, provavelmente vai sair da sala de cinema com comichão, como personagens que entram em casas de outras sem se saber bem como ou o poder de descobrir uma casa em Nova Iorque sabendo apenas o nome da pessoa (sem poderes psíquicos, atenção).

Mais uma vez, é impossível evitar a comparação com o livro. Tate Taylor não consegue criar aquela adrenalina de tentarmos juntar pistas para descobrir o que aconteceu a Megan, que é aquilo que torna o livro tão viciante.

Não há tempo para saborear as pequenas pistas no caminho, para tentar completar o puzzle, por exemplo. Somos arrastados para o final, mas sem o sentimento de turbilhão típico de um thriller. O filme estreia esta Quarta-feira, dia 5 de Outubro.

Sonha ter um walk in closet desde pequenina, mas enquanto isso não acontece, contenta-se a coleccionar maquilhagem e anéis. Não consegue resistir a uma boa sobremesa e a um belo livro. Passa a vida a ouvir música e tem uma lista de todos os concertos que já viu.